A cidade de Nova York, conhecida por sua rica diversidade cultural, agora enfrenta uma triste realidade no cenário de proteção animal. O Animal Care Centers (ACC), o maior abrigo de animais da cidade, alcançou o marcante número de mil animais sob seus cuidados, o que revela a crescente crise de adoção que assola a região. Este triste marco foi anunciado na última terça-feira, 18 de julho, após a entrega de Rocky, um cão sênior de 11 anos, por seu dono. A situação se torna ainda mais alarmante, uma vez que o abrigo anunciou a suspensão da aceitação de novos animais, exceto em casos de emergência.
A superlotação nos abrigos de Nova York
Rocky, que agora ocupa um espaço em uma sala de escritório na unidade de Brooklyn, representa apenas uma fração do desafio enfrentado pelo ACC, que está operando com capacidade total, onde centenas de outros cães estão em condições apertadas. A presidente da ACC, Risa Weinstock, destacou que o abrigo se dedica a cuidar dos animais, mas a situação atual coloca a organização em uma posição delicada. “Estamos no negócio de cuidar de animais que chegam até nós, e queremos ajudar as pessoas com seus animais de estimação, mas quando temos mil animais para cuidar e uma capacidade de alojamento que não atende a essa necessidade, estamos em uma situação difícil”, disse Weinstock em uma entrevista para a NBC News.
A realidade é que, mesmo com essa suspensão, o abrigo está recebendo excepcionais 200 animais adicionais que são considerados um risco à segurança pública ou enviados por agências da cidade. A administração municipal interveio, fornecendo $1 milhão para ajudar o ACC a lidar com a crise atual.
Causas da crise de adoção
As razões por trás dessa superlotação nos abrigos não são simples. O aumento no custo de vida e nas despesas com animais de estimação no Brasil e nos Estados Unidos resultou em um número alarmante de entregas de animais. De acordo com a Shelter Animals Count, 5,8 milhões de animais foram acolhidos em abrigos apenas no último ano. Embora tenha havido uma leve redução de 1% nas entregas de abrigos entre 2023 e 2024, os números ainda estão altos. A taxa de adoção também caiu: em 2019, 55% dos cães acolhidos tiveram “resultados positivos” (ou seja, foram adotados ou devolveram aos seus donos), mas esse número caiu para 50% em 2024, resultando em cerca de 334.000 cães sendo eutanizados.
Tori Fugate, diretora de comunicações de um grupo de proteção animal, afirmou que os últimos anos têm sido desafiadores para abrigos de animais em todo o país. Em alguns lugares, operadores de abrigos estão encontrando animais abandonados em estacionamentos ou à beira de estradas, enquanto outros abrigos estão apelando para doações e adoções urgentes nas redes sociais.
Iniciativas para enfrentar a crise
Com a elevação dos custos de propriedade de animais, muitos donos enfrentam dificuldades. Um relatório do Bank of America Institute revelou que serviços como cuidados veterinários e banho aumentaram em 42% desde 2019, com os preços de alimentos e produtos para animais subindo 22%. A alta nas despesas está fazendo com que os donos repensem seus gastos, levando a uma queda de 4% nas compras em pet shops e de 1% nas visitas a veterinários de abril de 2024 a abril de 2025.
“A principal razão para a entrega de animais é ‘não consigo arcar com os custos’. O tratamento veterinário é caro, a comida é cara, e, bem, o custo de vida humano é caro”, disse Weinstock.
Para mitigar essa crise, muitos abrigos, incluindo o ACC, estão oferecendo novos recursos, como alimentação gratuita, clínicas de vacinação e cupons para serviços veterinários, visando ajudar os donos a manterem seus animais em casa.
“Mesmo que seja apenas um animal, um cão de uma pessoa, que ajudamos a sair com comida para um mês, isso pode ajudá-lo a manter seu cachorro ou gato em casa. Isso é um bom dia”, acrescentou Weinstock.
Futuro incerto
A situação também traz à tona a necessidade urgente de sustentabilidade nos abrigos. A cidade de Nova York investirá $1 milhão no ACC para aumentar a capacidade e contratar mais 14 funcionários para o gerenciamento das unidades e suas operações diárias. O discurso da necessidade de adoção continua, com Weinstock enfatizando que os donos que entregam seus pets “não estão sem compaixão” mas sim enfrentando dificuldades e falta de opções.
Os desafios são grandes, e o papel da comunidade é fundamental. A urgência em adotar, ajudar a cuidar de animais, ou mesmo doar, é crucial nesse momento crítico para os abrigos. “Estamos aqui para ser um recurso para a comunidade durante tempos difíceis”, concluiu Weinstock.