A recente investigação sobre um suposto plano para assassinar autoridades, incluindo membros do Supremo Tribunal Federal (STF), trouxe à tona depoimentos alarmantes de integrantes das Forças Especiais do Exército. Os relatos, que começaram a ser apresentados na última quinta-feira, revelam a existência de um documento que delineava estratégias para ações drásticas contra figuras chave do governo e do Judiciário.
Cenários de assassinato e prisões de ministros
Um dos depoimentos mais impactantes foi do general da reserva Mário Fernandes, que admitiu ter redigido o documento conhecido como “Plano Punhal Verde e Amarelo”. Este plano, de acordo com a Polícia Federal, contava com cenários que visavam o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, relator de uma ação penal relacionada à tentativa de golpe.
Durante sua audiência, Fernandes minimizou a importância do arquivo, caracterizando-o como uma análise de risco realizada de maneira individual e sem a intenção de se tornar um plano prático. “Esse arquivo digital é um estudo de situação, uma análise de riscos que fiz e, por costume próprio, resolvi digitalizar. Esse pensamento digitalizado não foi compartilhado com ninguém”, afirmou o general.
Despolitizando o documento
Apesar das tentativas de Fernandes de despolitizar o conteúdo, os detalhes expostos pela PF sugerem que o documento não se tratava apenas de um exercício intelectual. Ele é considerado parte da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) no caso da tentativa de golpe. A intenção parece clara, e o general é apontado como membro ativo de um núcleo que estaria preparado para agir caso o plano fosse colocado em prática.
Fernandes também tentou aclarar que o plano não tinha um objetivo operacional, explicando que havia impresso o material apenas para uso pessoal e depois o destruiu. “Imprimi por um costume pessoal de evitar ler documentos na tela. Logo depois, rasguei”, disse.
Testemunhos contraditórios e a visão do tenente-coronel
Em uma audiência posterior, o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, que também é conhecido como “kid preto”, apresentou uma narrativa diferente ao STF. Ele afirmou que o plano que incluía sugestões de prisão de ministros do STF era apenas um exercício interno de simulação da inteligência do Exército no Rio Grande do Sul, não um plano concebido para a ação.
Lima enfatizou que o documento, conhecido como “Desenho Operacional Luneta”, foi desenvolvido como parte de um esforço para preparar a instituição em caso de alegações de fraude nas eleições de 2022. “Se amanhã sair um relatório ou um pronunciamento falando ‘atenção, teve fraude sim’, eu não posso deixar meu comandante ser surpreendido”, explicou.
A tentativa de deslegitimar as alegações
De acordo com o tenente-coronel, a interpretação da PGR era equivocada, afirmando que a análise era meramente prospectiva e não tinha o objetivo de eliminar indivíduos ou implementar um plano operacional. “É um cenário totalmente hipotético. Ele não fala em eliminar ninguém. É amparado por normas legais”, defendeu.
Por outro lado, o coronel Fabrício Moreira de Bastos, também ouvido no processo, confirmou a existência de uma carta que supostamente pressionava o comando do Exército a apoiar a trama golpista. Bastos revelou que recebeu ordens para repassar o documento, o que confirma uma coordenação interna entre alguns oficiais que desejavam articular ações contrárias ao governo. Ele descreveu a carta como um desabafo, destacando a ingenuidade dos coronéis que pensavam poder influenciar os altos comandos das Forças Armadas.
A PGR, no entanto, argumenta que todo o enredo revela um planejamento prévio para a implementação de ações que poderiam levar a uma ruptura institucional substancial, colocando em xeque a democracia brasileira.
Conclusão
À medida que os detalhes da investigação se desenrolam, a sociedade brasileira observa com apreensão o desdobramento dos eventos e as possíveis implicações para o futuro político do país. A gravidade das acusações contra militares da ativa e da reserva não pode ser subestimada, uma vez que envolvem não apenas a segurança do Estado, mas também a confiança da população nas instituições democráticas. O rumo das investigações e seus resultados ainda são incertos, mas o impacto dessas revelações será sentido por um bom tempo na esfera pública e política.