O presidente interino da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Marcelo Lobo, gerou debate nesta terça-feira ao votar de forma diferente de seus antecessores na análise da Oferta Pública de Aquisição (OPA) da Ambipar na B3. Mesmo após a declaração de que votava como diretor e como presidente, Lobo alterou o resultado, influenciando a decisão final contra a operação, prevista inicialmente para proteger os investidores minoritários.
Voto polêmico de Marcelo Lobo na decisão da CVM
Segundo informações de Lauro Jardim, publicado nesta semana, Lobo causou resistência ao votar contra a proposta de OPA após determinar que sua votação seria como diretor e presidente, cargo que detém voto de minerva. Essa mudança de voto foi decisiva para transformar o placar, que antes indicava apoio à operação, em uma derrota por 3 a 2. O resultado provocou questionamentos sobre a autonomia dos votos do presidente interino.
Operações do Banco Master e suspeitas de inflar patrimônio
A controvérsia está relacionada aos movimentos do Banco Master, de Daniel Vorcaro, cujo interesse na valorização das ações da Ambipar foi destacado pela área técnica da CVM na ata da última reunião. De acordo com o órgão regulador, fundos geridos por uma companhia do grupo do banco participaram de operações que buscavam inflar o valor das ações, com o objetivo de aumentar o patrimônio do banco por meio da valorização.
Conexões e divergências internas na CVM
Antes da votação, ex-presidente João Pedro Nascimento e a atual diretora Marina Copola votaram favoravelmente à OPA, mas consideraram que os custos deveriam ser arcados apenas pelo controlador, Tércio Borlenghi Júnior. A área técnica, no entanto, defendia que fundos geridos pelo grupo do Banco Master, como Esna, Kyra e Texas, também participariam desse processo, suspeitando de uma estratégia de valorização manipulada.
Casos antigos e impacto na futura atuação da CVM
Em maio passado, Marcelo Lobo já havia surpreendido ao não votar em um parecer sobre um acordo envolvendo operações com cotas de fundos imobiliários de 2018, deixando a decisão pendente. Tal comportamento levanta receios de que o caso Ambipar possa estabelecer um precedente para futuras intervenções da CVM, especialmente envolvendo o Banco Master, cujo voto contra gerou maior inquietação entre observadores do mercado.
Relevância da OPA e riscos de judicialização
A realização de uma OPA é uma ferramenta de proteção aos investidores minoritários, obrigando quem adquirir participações relevantes a oferecer condições iguais a todos os acionistas. Com a mudança de voto de Lobo, a possibilidade de contestação na Justiça e recursos por parte de investidores tornou-se mais provável, podendo adiar ou impedir a formalização da operação, além de ampliar o cenário de instabilidade no mercado de ações.
Segundo especialistas, a resistência do órgão regulador ao procedimento pode criar um padrão de dificuldades para operações semelhantes, especialmente quando há sinais de interesses de grupos empresariais que buscam inflar seus ativos. A decisão de hoje evidencia tensões internas e possíveis desdobramentos futuros na atuação da CVM frente a casos de manipulação de mercado e operações estratégicas.
Mais detalhes sobre o caso podem ser revisados na reportagem de Lauro Jardim.