A Administração do Patrimônio da Santa Sé (APSA) divulgou nesta quarta-feira (28) seu balanço financeiro de 2024, indicando um lucro líquido de 62,2 milhões de euros (aproximadamente 72,1 milhões de dólares). Este é um dos melhores resultados desde o início da publicação dos relatórios, destacando-se pelo crescimento em relação aos anos anteriores.
Desempenho financeiro e contribuições para o Vaticano
Além do lucro recorde, a APSA contribuiu com 46,1 milhões de euros (cerca de 53,4 milhões de dólares) para cobrir o déficit do Vaticano, representando um aumento de 8 milhões de euros em relação a 2023. Segundo o presidente da APSA, arcebispo Giordano Piccinotti, esses resultados demonstram uma gestão eficaz e um compromisso renovado com a missão da Igreja.
“Este é um dos melhores balanços financeiros recentes”, afirmou Piccinotti, ressaltando que os números refletem uma estratégia baseada na transparência, colaboração e na valorização consciente do patrimônio da Santa Sé.
Visão e estratégia do patrimônio
O arcebispo destacou que a APSA não se limita a oferecer serviços operacionais, mas funciona como uma organização a serviço da missão da Igreja Católica. A gestão é guiada por três princípios principais: uma visão eclesial do patrimônio, a busca por transparência e a orientação ao bem comum, por meio de decisões éticas e pastoralmente responsáveis.
“Os ativos que gerimos não são fins em si mesmos, mas instrumentos para fortalecer a comunhão e a pertença à Igreja”, explicou. A estratégia também envolve parcerias institucionais e processos claros de responsabilidade.
Lucros e gestão de ativos
O resultado do exercício de 2024 representa um superávit de 16 milhões de euros (cerca de 18,5 milhões de dólares) a mais do que o registrado em 2023, que foi de 45,9 milhões de euros (aproximadamente 53,2 milhões de dólares). Uma parte significativa desses recursos foi destinada ao orçamento do Vaticano (“fabbisogno”), que totalizou 170,4 milhões de euros (quase 197,5 milhões de dólares).
Segundo Piccinotti, melhorias na gestão e na valorização dos ativos contribuíram para esses resultados. “Reestruturamos a administração de propriedades, permitindo aluguéis a preços de mercado, o que gera recursos adicionais”, afirmou.
Investimentos e sustentabilidade financeira
No âmbito de investimentos, a APSA comemorou uma rentabilidade de 8,51% em 2024, alcançando um retorno de aproximadamente 10 milhões de euros (cerca de 11,6 milhões de dólares). Essa performance foi possível por meio do uso de contas de gestão separada, semelhantes a fundos de investimento privados, permitindo vendas em momentos estratégicos e reinvestimentos planejados.
Gestão imobiliária e transparência
A gestão imobiliária, que representa uma parcela relevante do patrimônio do Vaticano, gerou receitas estáveis de 35,1 milhões de euros (aproximadamente 40,7 milhões de dólares). Com um portfólio de 4.234 imóveis na Itália e ativos no exterior, o setor registrou aumento de receitas com aluguéis (+3,2 milhões de euros na Itália e +0,8 milhão no exterior) e manutenção eficiente, que reduziu despesas em 3,9 milhões de euros.
Desde 2020, a APSA publica anualmente seus resultados financeiros, fortalecendo a prática de transparência impulsionada pelo Papa Francisco. Para 2024, a organização também pagou 6 milhões de euros (cerca de 6,9 milhões de dólares) em impostos municipais (IMU) e 3,19 milhões de euros (aproximadamente 3,7 milhões de dólares) em imposto de renda corporativo, contrariando rumores de isenções fiscais generalizadas.
Projetos sustentáveis e visão de futuro
Entre os projetos destacados, está o Fratello Sole, uma usina agrovoltaica na região de Santa Maria di Galeria, voltada à transição energética do Vaticano. Visitada pelo Papa Leo XIV em junho, a iniciativa busca promover a ecologia integral, alinhada aos princípios de St. Francisco de Assis.
“Nosso objetivo é continuar aprimorando a cobertura do déficit em 2025”, afirmou Piccinotti, que encerrou sua avaliação com uma reflexão herdada de seu avô: “Não se pode tirar mais do que 15 quilos de cerejas de uma cerejeira. Estamos próximos do limite, mas ainda há espaço para melhorias. A gestão está bem feita, mas não estamos parados”, concluiu.
Esta reportagem foi originalmente publicada pela ACI Prensa e adaptada pela CNA.