O tenente-coronel Márcio Nunes Resende Júnior, réu na ação penal relacionada a uma tentativa de golpe, afirmou em seu depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o silêncio do Exército durante os acampamentos em frente aos quartéis, após as eleições de 2022, criou um “vácuo de poder” que pode ter contribuído para a radicalização dos manifestantes. Segundo o oficial, a omissão da Força naquele período foi um erro com sérias consequências.
A crítica ao silêncio do Exército
Durante a oitiva, Resende Júnior não hesitou em criticar a postura do Exército, afirmando que a falta de uma posição clara da instituição durante a agitação pós-eleitoral gerou um ambiente propício à radicalização. “Houve um erro grande. Houve um silêncio ensurdecedor por parte do Exército”, declarou o tenente-coronel. Ele destacou ainda que, com os manifestantes acampados em frente aos quartéis, a ideia de que poderiam ter apoio das Forças Armadas para uma ruptura institucional se estabeleceu entre os acampados.
Consequências do silêncio
Resende Júnior ressaltou que, se o então presidente Jair Bolsonaro tivesse tomado uma atitude mais audaciosa, como acionar o artigo 142 da Constituição, a situação poderia ter se tornado caótica. “Um informativo do Exército ali seria importante”, insinuou o oficial, evidenciando que o clima de incerteza ficou favorável à interpretação equivocada dos manifestantes, que acreditavam que a cúpula militar poderia apoiar suas ações.
O tenente-coronel ainda mencionou que o ambiente do acampamento no Quartel-General (QG) era marcado por discursos de apoio a Bolsonaro, e a falta de uma resposta clara por parte do comando militar deixava espaço para interpretações errôneas, alimentando a convicção entre os presentes de que havia uma conivência implícita da parte do Exército.
Interação com os manifestantes
Resende Júnior, que faz parte do grupo conhecido como “kids pretos”, composto por militares da ativa que supostamente estavam envolvidos na articulação da tentativa de golpe, comentou sobre a informalidade de uma reunião organizada para tratar de uma “carta ao comandante”. Ele relatou que esse evento teve repercussões financeiras negativas para si, confirmando que o encontro foi desorganizado e sem planejamento adequado.
O oficial ainda fez questão de deixar claro que suas intenções não foram conspiratórias. “Foi uma coisa bem nossa, bem informal”, comentou, ressaltando a falta de preparo do encontro, e enfatizou que nunca houve um golpe em mente, mas sim uma simples reunião.
Repercussões legais
O tenente-coronel é um dos denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que sustenta que existia um núcleo militar articulado com aliados de Bolsonaro, com o intuito de obstruir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. A acusação levanta questões sérias sobre a estrutura e a influência das Forças Armadas na política brasileira, especialmente em tempos de crise emocional e política.
O depoimento de Resende Júnior trouxe à tona discussões importantes sobre o papel das Forças Armadas em meio a agitações políticas no Brasil. O seu reconhecimento do erro estratégico de omissão, bem como a análise do impacto da falta de comunicação clara do Exército, serve como alerta sobre a necessidade de uma postura mais proativa e transparente em situações de tensão nacional.
Nos próximos dias, a continuação dos desdobramentos desse caso e as possíveis implicações para outras figuras militares e políticas devem ser observadas com cautela, dada a fragilidade do cenário político atual no Brasil.