O Pix, sistema de pagamentos instantâneos desenvolvido pelo Banco Central, que começou como um ponto de crise para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em meio a investigações comerciais dos Estados Unidos, se transformou em uma oportunidade política. Nos últimos meses, o governo petista tem intensificado ações para defender o sistema como um patrimônio nacional, promovendo uma narrativa digital positiva entre seus apoiadores.
A origem da controvérsia
Em janeiro, uma interpretação equivocada sobre uma medida da Receita Federal gerou polêmica, levando a acusações de que o governo pretendia taxar o Pix. A situação foi intensificada por um vídeo viral do deputado Nikolas Ferreira, que utilizou o tema para criticar o presidente. A reação do governo foi imediata; Lula lançou uma campanha para exaltar o sistema de pagamentos, apresentando-o como essencial para a economia brasileira.
Estratégia digital e mobilização dos apoiadores
De acordo com informações do colunista Lauro Jardim, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo parece ter delineado uma nova estratégia. O foco é assegurar a defesa do Pix como uma das principais bandeiras da gestão, especialmente em um momento onde o discurso sobre soberania nacional tem ganho força, devido às ameaças de tarifas do governo Trump sobre produtos brasileiros.
Grupos de WhatsApp foram criados para mobilizar apoiadores em torno da defesa do Pix. Uma coordenadora desses grupos convocou os participantes a se unirem: “Atenção para a missão! Tá rolando um post importante sobre a tentativa dos EUA de pressionar o Brasil. E sabemos que o alvo da vez é o Pix. Sim, o nosso Pix!” Essa mobilização digital tem sido auxiliada por hashtags populares nas redes sociais.
O impacto nas redes sociais
Nos dias 15 e 16 de julho, as hashtags “Pix é do Brasil” e “BolsoTrump” tiveram um impressionante número de 173 mil menções no X (antigo Twitter), distribuídas por aproximadamente 22 mil perfis. Entretanto, evidências de comportamento automatizado foram identificadas, com mil perfis postando em ritmo acelerado, sugerindo uma estratégia de influência orquestrada.
Uma pesquisa da Radar Febraban de setembro de 2022, conduzida pelo Ipespe, revelou que o Pix é aprovado por impressionantes 95% dos brasileiros, que atribuem ao sistema a melhor nota entre todos os métodos de pagamento disponíveis, superando cartões de crédito e débito, assim como transferências bancárias tradicionais.
Perspectivas futuras e reflexões políticas
O cientista político Josué Medeiros, da UFRJ, avalia que o movimento de Trump contra o Brasil revelou a Lula uma oportunidade para reforçar símbolos nacionais, com o Pix integrando essa estratégia. A percepção popular sobre o êxito e a utilidade do sistema pode ser uma alavanca para o apoio contínuo ao governo.
Os números de utilização do Pix são significativos. Pesquisa recente indicou que, desde a implementação do sistema, o uso de dinheiro em espécie caiu de 43% para apenas 6% entre os brasileiros. Atualmente, 93% da população adulta já utilizou o Pix em suas transações, confirmando sua popularidade e eficácia na dinâmica econômica do país.
Com um cenário político cada vez mais desafiador e um olhar voltado para 2026, o governo Lula parece determinado a transformar a crise do Pix em um exemplo positivo de resiliência e inovação, utilizando a narrativa em suas estratégias de comunicação e mobilização.