O Ministério Público Federal (MPF) concluiu recentemente o inquérito que investigava o russo Sergey Vladimirovich Cherkasov, detido na Penitenciária Federal de Brasília. A decisão de arquivar as investigações por espionagem se deu pela falta de provas que ligassem o acusado a atividades de espionagem em território brasileiro. A situação de Cherkasov ganha contornos ainda mais complexos devido a ameaças de morte que ele enfrenta do Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores facções criminosas do Brasil.
Entenda o caso de Sergey Cherkasov
Sergey Cherkasov foi preso em abril de 2022, em São Paulo, pela Polícia Federal. Ele utilizava uma identidade brasileira falsa, registrada em nome de Victor Muller Ferreira, para tentar se infiltrars no Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, na Holanda. A investigação inicial do MPF tinha como base a suspeita de que o russo utilizaria sua falsa identidade para conduzir ações de inteligência. Contudo, um documento sigiloso revelou que não foram encontrados elementos concretos que comprovassem tais atividades, levando os procuradores a reavaliar as acusações.
O MPF destacou que, embora a investigação tenha começado com indícios de espionagem, foi constatado que não havia informações suficientemente robustas para prosseguir com esse enquadramento. Em vez disso, os procuradores decidiram direcionar a investigação para possíveis crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Novas linhas de investigação
Com a reavaliação do caso, o MPF realizou novas investigações sobre a origem dos recursos financeiros de Cherkasov. Entre 2012 e 2022, ele deixou o Brasil 15 vezes. Com autorização judicial, foram quebrados os sigilos bancários do investigado, o que revelou que ele recebeu uma quantia considerável: R$ 89,6 mil entre janeiro de 2021 e julho de 2022, por meio de depósitos fracionados de R$ 2 mil.
Os procuradores indicaram que o padrão das transações levantou suspeitas, apontando para indícios claros de lavagem de dinheiro. As investigações ainda mostraram que os depósitos foram feitos por funcionários consulares russos, utilizando um empresário carioca que realizava transações a pedido dos diplomatas. Esse esquema levanta questões sobre a possibilidade de repasses ilegais e a manutenção de uma rede de apoio ao russo dentro do Brasil.
Crime organizado e documentos falsos
Além das suspeitas de lavagem de dinheiro, os investigadores descobriram a existência de uma organização criminosa supostamente dedicada à produção de documentos falsos. O MPF também apurou que a aquisição de um apartamento em Cotia (SP) por R$ 190 mil, feita por meio de criptomoedas e transferências bancárias, ainda carece de esclarecimentos sobre a origem dos valores e a legalidade das transações.
De acordo com os investigadores, embora a compra do imóvel não indique diretamente uma tentativa de ocultação, as transações financeiras relacionadas a funcionários do consulado russo caracterizam práticas de lavagem de dinheiro.
Impasse entre as nações
O caso de Cherkasov também intensificou um embate político internacional. O russo tornou-se um alvo de disputa entre os governos dos Estados Unidos e da Rússia, ambos buscando sua custódia. Contudo, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que ele deverá permanecer no Brasil até que todas as investigações sejam concluídas, o que poderia levar mais tempo.
Em julho de 2022, ele foi condenado a 15 anos de prisão por fraude de documentos relacionados à sua identidade falsa. No entanto, isso foi posteriormente reduzido para 5 anos e 2 meses, que, caso o permitir, pode ser cumprido em regime semiaberto.
Ameaças do PCC e segurança de Cherkasov
É importante mencionar que Cherkasov virou alvo de ameaças de morte por membros do PCC. A divulgação de sua verdadeira identidade, assim como suas atividades, levou à necessidade de sua separação dos demais detentos para garantir sua segurança. No entanto, mesmo permanecendo isolado, ele continua sob vigilância, uma vez que as autoridades temem uma possível fuga ou um assassinato por parte da facção criminosa.
Com seu futuro incerto e uma série de novas investigações em curso, o caso de Sergey Cherkasov promete continuar a gerar desdobramentos. Enquanto isso, o MPF e a Polícia Federal permanecem atentos, buscando agir em consonância com a complexidade e a gravidade da situação.