Brasil, 29 de julho de 2025
BroadCast DO POVO. Serviço de notícias para veículos de comunicação com disponibilzação de conteúdo.
Publicidade
Publicidade

Morre Marcelo Beraba, ícone do jornalismo investigativo brasileiro

Morreu aos 74 anos o jornalista Marcelo Beraba, um dos fundadores da Abraji e uma referência no jornalismo investigativo no Brasil.

Na última segunda-feira, o Brasil perdeu um de seus grandes nomes do jornalismo. Marcelo Beraba, aos 74 anos, faleceu, deixando um legado inestimável no campo da informação e do jornalismo investigativo. Um dos idealizadores e primeiro presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Beraba dedicou sua vida à busca pela verdade e à promoção de práticas jornalísticas éticas e rigorosas.

A trajetória de um jornalista exemplar

Marcelo Beraba formou-se em jornalismo pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sua carreira começou cedo, aos 20 anos, como repórter do jornal O GLOBO, onde ficou até 1984. Durante esse período, destacou-se na editoria de Polícia, contribuindo para a modernização da cobertura jornalística e dando voz a uma nova geração de repórteres, sob a liderança do diretor de redação Evandro Carlos de Andrade.

Furos que marcaram a história

Um dos marcos de sua carreira ocorreu nos anos finais da ditadura militar quando Beraba conseguiu um furo exclusivo: imagens da cirurgia do coronel Wilson Machado, um dos responsáveis pelo atentado do Riocentro em 1981. O atentado, que tinha como alvo um evento comemorativo pelo Dia do Trabalho, fracassou por conta de uma explosão acidental, ferindo o coronel. As imagens publicadas na primeira página do GLOBO em 6 de maio de 1981 foram essenciais para desvendar a participação dos militares no plano terrorista e reforçar o processo de abertura democrática no Brasil.

Após deixar O GLOBO, em 1984, Marcelo Beraba transferiu-se para a Folha de S. Paulo, onde contribuiu com coberturas significativas, como o vazamento na usina nuclear de Angra dos Reis em 1986. Em 1996, voltou ao Rio de Janeiro para se tornar editor-executivo do Jornal do Brasil, além de ter passagem pela TV Globo como editor do Jornal da Globo. Ele também atuou como ombudsman e repórter especial na Folha, até sua mudança para o Estadão em 2008, onde atuou como diretor das sucursais no Rio e em Brasília até sua aposentadoria, em 2019, após 48 anos de carreira.

A fundação da Abraji e o legado no jornalismo investigativo

A criação da Abraji foi uma resposta direta ao assassinato do jornalista Tim Lopes, da TV Globo, em 2002. Lopes foi brutalmente assassinado por traficantes enquanto investigava a prostituição de menores em bailes funk. Comovido pela tragédia e em busca de mudanças, Beraba enviou convites a jornalistas e editores, propondo a formação de uma associação independente voltada para a troca de informações e o aprofundamento do conhecimento no jornalismo investigativo.

A Abraji foi oficialmente fundada em dezembro de 2002 e elegeu Marcelo Beraba como seu primeiro presidente, cargo que ocupou até 2007. Durante sua gestão, recebeu o prêmio Excelência em Jornalismo oferecido pelo International Center for Journalism (ICFJ), evidenciando sua dedicação e impacto na profissão.

Um líder admirado e exigente

Nas redações por onde passou, Beraba era conhecido por sua exigência e busca por clareza e objetividade. Ele sempre estimulou a prática de um jornalismo robusto, pautado por um senso crítico e pela apuração rigorosa dos fatos. Seu espírito inquieto de repórter e sua habilidade em liderar equipes deixaram uma marca indelével na profissão.

Marcelo Beraba é lembrado não apenas por suas conquistas, mas também pela sua generosidade em compartilhar conhecimentos com colegas e pela luta pela segurança dos jornalistas em campo. Ele deixa esposa, a também jornalista Elvira Lobato, além de quatro filhos e três netos.

O jornalismo brasileiro perde um de seus maiores defensores e um exemplo de dedicação à verdade. O legado de Beraba impressiona e continua a inspirar os novos profissionais da área, que buscam seguir os passos deste gigante do jornalismo investigativo.

PUBLICIDADE

Institucional

Anunciantes