Menos de uma semana antes do prazo final para a imposição de tarifas pelos Estados Unidos, um acordo foi fechado com a União Europeia, prevendo tarifas de 15% e evitando a sobretaxa de 30% que ameaçava os 27 países-membros. A medida traz esperança de maior estabilidade para os mercados globais nesta semana, mas aumenta a pressão sobre o Brasil, que ainda busca negociar para evitar tarifas de até 50% dos EUA.
Outro acordo com impacto no comércio mundial
O entendimento foi anunciado após reunião entre o presidente Donald Trump e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no resort de Trump em Turnberry, na Escócia. O acordo prevê tarifa base de 15% para a maioria dos produtos, incluindo automóveis, enquanto aço e alumínio continuarão com tarifas de 50%. Segundo Trump, produtos farmacêuticos e metais ficaram de fora. Além disso, o acordo implica investimentos de US$ 600 bilhões nos EUA, compra de US$ 750 bilhões em produtos energéticos nos próximos três anos e aquisição de equipamentos militares americanos.
Estratégia de negociação e impacto regional
O entendimento reflete a estratégia dos EUA, que usam tarifas como ferramenta de barganha, exigindo investimentos bilionários em troca de redução de tarifas. A tarifa média global é de 2,8%, de acordo com a Organização Mundial do Comércio, e Trump declarou que o acordo representa o “maior de todos os tempos”. A União Europeia afirmou que o acordo trará estabilidade e previsibilidade ao comércio, evitando uma retaliação que, caso não fosse evitada, poderia atingir um terço das exportações americanas para o bloco, ou cerca de US$ 117 bilhões.
Desafios para o Brasil na negociação com os EUA
Enquanto isso, o Brasil enfrenta dificuldades para negociar diretamente com a Casa Branca. O governo ainda busca uma saída para evitar tarifas de até 50%, especialmente sobre produtos como carne bovina, café, suco de laranja e bens industriais. O vice-presidente Geraldo Alckmin e o chanceler Mauro Vieira estão empenhados em negociações, mas fontes indicam que os canais de diálogo estão obstruídos de forma deliberada pelas autoridades americanas.
Segundo especialistas, não há muita margem de manobra para o Brasil, que já tem uma balança comercial deficitária com os EUA. O ex-ministro e assessor especial da Presidência, Celso Amorim, ressaltou que a comparação entre o acordo com a UE e a ameaça de tarifa ao Brasil é inadequada, pois o sistema judicial do Brasil não foi atingido como o foi no caso europeu.
Outros acordos e o cenário internacional
Além do entendimento com a UE, os EUA também firmaram acordos com Japão, Filipinas, Indonésia, Vietnã, Reino Unido e China. O acordo com o Japão, por exemplo, prevê tarifa de 15% e investimentos de US$ 550 bilhões, além de redução na tarifa de automóveis de 25% para 15%. O entendimento com a China, por sua vez, suspendeu tarifas por 90 dias, aguardando novas negociações. Os setores de defesa e energia também se favoreceram com os accords.
Trump declarou que está analisando acordos com outros países, e especialistas alertam que, embora as tarifas acordadas até aqui sejam menores que as ameaçadas para agosto, ainda há impacto na decisão de empresas e nos preços para consumidores americanos.
Perspectivas e próximos passos
Ainda há esperança para o Brasil, que tenta negociar uma redução ou suspensão das tarifas. O chanceler Mauro Vieira está em Nova York, participando de uma reunião da ONU, com a mensagem de que o Brasil deseja dialogar, mas de forma restrita ao aspecto comercial, evitando contaminações políticas ou ideológicas. Segundo fontes, o governo espera que os EUA, ao menos, sinalizem disposição para negociar, o que poderia evitar prejuízos econômicos maiores.
O acordo entre os EUA e a UE indica uma tendência de estabilização nas relações comerciais internacionais, mas o tempo é um fator decisivo para o Brasil, que está sob alta pressão para proteger suas exportações diante do risco de tarifas elevadas.