No âmbito da investigação do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a trama golpista que culminou nos eventos de 8 de janeiro de 2023, o coronel do Exército, Bernardo Romão Correa Netto, declarou que a reunião ocorrida em 22 de novembro de 2022, entre militares do Batalhão de Forças Especiais, conhecidos como “kids pretos”, foi apenas um “encontro de amigos”. No entanto, a Polícia Federal (PF) indicou que o objetivo do encontro era planejar ações que visavam pressionar comandantes do Exército a manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder.
O que a investigação revelou
A investigação da PF, que identificou tentativas de golpe de Estado no final de 2022, revelou que a reunião em Brasília não apenas discutia ações para influenciar os comandantes do Exército, mas também buscava estratégias para atingir o ministro Alexandre de Moraes, considerado pelo grupo como o “centro de gravidade”. No depoimento prestado à PF, Correa Netto inicialmente negou ter conhecimento sobre a reunião, mas acabaria por admitir sua participação.
O coronel alegou que o encontro não foi organizado formalmente, sugerindo que os convites foram feitos de forma espontânea entre os próprios militares. Segundo ele: “O que houve foi um encontro de amigos do Forças Especiais. Geralmente, quando há muita gente reunida da mesma guarnição, há encontros de militares da mesma especialidade”, afirmou durante o interrogatório.
Reunião informal ou planejamento golpista?
Correa Netto descreveu a reunião como uma ocasião descontraída e informal, realizada em um salão de festas de um prédio comercial, sem discussões operacionais. Para ele, a natureza do encontro impediu que qualquer planejamento sério fosse feito. “Qualquer planejamento, principalmente feito por militares, precisa ter a ação, quem vai executar, quando e como isso será feito. Isso não existiu”, disse ele, enfatizando que o evento durou cerca de duas horas, com pizza e refrigerantes servidos, o que, segundo ele, não condiz com uma reunião que discutiria estratégias de golpe.
No entanto, as mensagens trocadas entre os oficiais, conforme documentado na investigação, contradizem sua narrativa. Dois dias antes do encontro, Correa Netto enviou uma mensagem a outro coronel, indicando que pretendia reunir militares em posições-chave para uma conversa sobre como poderiam “influenciar nossos chefes”. Essa manifestação é um indicativo claro do intuito estratégico por trás do encontro, como ressaltado no relatório da PF.
Detalhes da carta enviada
Ainda no dia da reunião, Correa Netto enviou a minuta da “Carta ao Comandante do Exército e Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro” a outro coronel que participaria da reunião. A PF destacou que, enquanto organizavam o evento, os envolvidos já estavam colocando em prática ações destinadas a desestabilizar o Estado de Direito. O coronel afirmou que enviou a carta a pedido de um colega, que alegava que seu superior havia solicitado o documento.
Implicações dos depoimentos
As declarações do coronel Correa Netto levantam questionamentos sobre a seriedade da situação e a possibilidade de que a reunião fosse, de fato, um planejamento para ações golpistas. O contraste entre sua defesa de um encontro casual e as evidências apresentadas pela PF sugere uma complexidade maior na trama investigada. À medida que o inquérito avança, a sociedade brasileira aguarda respostas sobre o envolvimento de militares nas tentativas de desestabilização do governo e as implicações legais dessas ações.
As investigações em curso prometem revelar mais detalhes sobre os interesses e estratégias de grupos dentro das Forças Armadas, em um momento em que a democracia no Brasil enfrenta desafios significativos.