O Brasil anunciou nesta segunda-feira (28) que irá dobrar sua aposta no bloco dos Brics, em meio às declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas às exportações brasileiras. A decisão foi confirmada por Celso Amorim, assessor de Relações Exteriores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em reportagem do jornal Financial Times.
Reforço aos Brics diante de tensões com os EUA
Segundo Amorim, as ações de Trump têm fortalecido a posição do Brasil no bloco dos Brics, que reúne China, Rússia, Índia, África do Sul e outros países como Irã e Arábia Saudita. “Queremos relações diversificadas e não depender de nenhum país único”, afirmou o assessor, destacando que a postura do Brasil visa fortalecer vínculos multilaterais diante da tentativa de intervenção dos EUA nos assuntos internos brasileiros.
Trump ameaça com tarifas e ataca o Brasil
As tarifas americanas, anunciadas por Trump em 9 de julho, entram em vigor nesta sexta-feira (1° de agosto) e representam uma sobretaxa de 10% sobre produtos de países alinhados ao bloco dos Brics. O presidente dos EUA indicou que a medida é uma resposta ao tratamento dado pelo Brasil ao ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentar um golpe de Estado na visão de Trump, e chamou a ação de uma “caça às bruxas”.
Amorim criticou veementemente as ações de Trump, dizendo que sua interferência no Brasil “não tem precedentes, nem na época colonial”. Ele afirmou que as tentativas de Trump de agir politicamente em favor de Bolsonaro mostram um “poder absoluto” e representam uma forma de manipulação diplomática.
Desafios e estratégias brasileiras no cenário global
Apesar da tensão, o Brasil reafirmou seu compromisso de fortalecer sua participação no bloco dos Brics, formado por China, Rússia, Índia e África do Sul. Amorim destacou que a diversificação das alianças é prioridade, com esforços para ampliar vínculos comerciais com a Europa, Ásia e América do Sul.
Embora a China seja o maior parceiro comercial do Brasil — com importações de US$ 94 bilhões em 2024 —, Amorim afirmou que o país não busca que Pequim seja o principal beneficiário das tarifas americanas. Ele também posicionou o Brics como uma plataforma de apoio à ordem multilateral, especialmente diante da postura unilateral dos Estados Unidos sob Trump.
Relações econômicas e acordos comerciais
O assessor de Lula reforçou a importância de acelerar a ratificação do acordo comercial entre Brasil e União Europeia, destacando que o documento traria ganhos econômicos e maior equilíbrio nas relações internacionais. Além disso, revelou interesse do Canadá em negociar um acordo de livre comércio com o Brasil e anunciou foco na integração da América do Sul, uma das regiões com menor comércio interno globalmente.
“Trump é uma exceção na diplomacia internacional: países têm interesses, mas ele age movido por desejos”, comentou Amorim, criticando a postura do ex-presidente americano.
Perspectivas diante das tensões tarifárias
Com o cenário de tarifas americanas cada vez mais próximo, o governo brasileiro reconhece a inevitabilidade das medidas e tenta negociar uma redução to 50% nas sobretaxas, escalando o vice-presidente Geraldo Alckmin para liderar as negociações. Lula também afirmou que, em caso de contato com Trump, explicaria a situação do ex-presidente Bolsonaro e buscaria evitar maiores prejuízos às relações comerciais.
Autoridades de oposição, como os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo), Ronaldo Caiado (Goiás) e Ratinho Júnior (Paraná), criticaram a estratégia do governo federal, sobretudo as declarações de Lula acerca da “desdolarização” do comércio, afirmando que o foco deveria ser nas relações econômicas internacionais, independentemente de preferências ideológicas.
A situação no cenário global revela um Brasil buscando posicionar-se firmemente diante de pressões e ameaças, apostando na diversificação de suas alianças e reafirmando sua presença no grupo dos Brics como estratégia de resistência às ações protecionistas dos Estados Unidos.