As pesquisas de opinião no futebol costumam gerar discussões acaloradas sobre qual clube tem a maior torcida. Apesar dos esforços para apresentar dados minuciosos — como margens de erro individualizadas e infográficos didáticos —, a polêmica persiste. Um conselho pertinente: ao invés de se preocupar com a quantidade de torcedores, é mais interessante focar nos detalhes que compõem o perfil do torcedor.
Análise do perfil do torcedor brasileiro
Uma pesquisa realizada pelo O GLOBO em parceria com a Ipsos-Ipec revelou que o torcedor mais fanático no Brasil é tipicamente homem, jovem, nordestino, negro, oriundo de pequenas cidades e com renda inferior a um salário mínimo. Por outro lado, no extremo oposto da escala, os torcedores ocasionais costumam ser mulheres de meia-idade, brancas, das regiões Sul e Sudeste, frequentemente residentes em periferias de grandes cidades e com renda superior a cinco salários mínimos.
Impacto da renda e da localização no fanatismo
Esse cenário destaca uma correlação entre a renda e o nível de fanatismo pelo futebol. Aqueles que possuem uma renda mensal inferior a R$ 1.518 enfrentam menos opções de entretenimento em comparação com quem ganha acima de R$ 7.590. Cinema, teatro e shows tornam-se menos acessíveis, e a maioria das pessoas se volta para atividades mais tradicionais, como o futebol. Muitas dessas interações são gratuitas, como assistir aos jogos pela televisão ou torcer com camisas piratas. Assim, percebe-se que o engajamento pode ser uma consequência das limitações financeiras e de opções de lazer.
A relação entre características sociais e o fanatismo no futebol
As características dos torcedores engajados reforçam ainda mais essa relação de que menos dinheiro leva a mais paixão pelo futebol. Residentes de cidades pequenas, por exemplo, têm menos opções de entretenimento do que aqueles que vivem em grandes centros urbanos. Além disso, a realidade econômica em que os homens negros ou pardos se encontram reflete a herança social do Brasil, que historicamente margina essas populações.
O papel do gênero na paixão pelo futebol
Outro fator importante a ser considerado é o gênero. Os homens, em geral, se mostram mais fanáticos pelo futebol do que as mulheres. Embora a questão financeira contribua para essa disparidade, a cultura em torno do esporte também desempenha um papel fundamental. Durante décadas, a prática do futebol feminino foi desvalorizada, com a mídia frequentemente ignorando as mulheres que desejavam participar do esporte. Esta exclusão social deixou um legado que pode demorar a ser superado.
A necessidade de uma abordagem mais inclusiva
Levando em conta que o torcedor fanático é predominantemente homem, jovem, negro e de baixa renda, os clubes de futebol têm uma oportunidade crucial de se conectar com essa base de fãs. É fundamental que os clubes desenvolvam estratégias que alinhem suas atividades e engajamento às realidades desses torcedores, sem pressioná-los a consumir produtos ou serviços desproporcionais à sua realidade financeira.
Por outro lado, quando analisamos o perfil das mulheres, que estão, na maioria, entre os torcedores menos engajados e apresentam maior poder aquisitivo, questionamos: será que elas não gostam de futebol? Ou simplesmente não foram apresentadas às narrativas e ao entretenimento que envolvem o esporte? Essa perspectiva nos leva a refletir sobre como a construção social e cultural influencia a maneira como diferentes grupos se relacionam com o futebol.
A relevância da pesquisa sobre engajamento e estratificação
Assim, fica evidente que as pesquisas sobre torcedores podem oferecer um retrato muito mais rico do que apenas números relacionados à maior torcida. O mapeamento do perfil de torcedores e suas práticas, combinações socioeconômicas, e experiências pessoais são aspectos que podem redefinir o entendimento sobre o futebol no Brasil. Abandonar a briga por meio ponto percentual em favor de uma compreensão mais aprofundada do fandom pode gerar resultados mais significativos e, em última análise, mais benéficos para o mundo do futebol.
Em suma, entender o perfil do torcedor não apenas melhora a compreensão sobre quem torce, mas também molda as estratégias dos clubes em buscar maior inclusão e engajamento entre diferentes grupos dentro da sociedade.