O ex-presidente Donald Trump apresentou tarifas de importação como uma estratégia para reequilibrar a economia dos EUA, prometendo revitalizar a manufatura e obter vantagens comerciais. No entanto, estudiosos e economistas destacam que essas políticas podem ser ilusórias e prejudiciais, afetando tanto consumidores quanto a competitividade americana no mercado global.
As falácias por trás das tarifas de Trump
Trump afirmou que as tarifas servem para eliminar déficits comerciais e aumentar receitas governamentais. Entretanto, especialistas explicam que a balança de comércio de um país é influenciada por políticas fiscais e monetárias, não por tarifas. Segundo o professor de economia and assuntos globais da Universidade de Syracuse, Devashish Mitra, as tarifas não aumentam significativamente as receitas do governo nem resolvem questões estruturais da economia.
Além disso, a promessa de gerar empregos na manufatura é duvidosa, pois a automação substitui trabalhos humanos e as companhias preferem contratar trabalhadores com salários mais baixos na Ásia ou na América Latina. Assim, as tarifas se tornam uma medida superficial, que engana a percepção pública sobre um crescimento econômico sustentável.
Estratégia de tarifas “recíprocas” e suas contradições
Em 2 de abril, Trump anunciou tarifas chamadas de “libertadoras”, com a intenção de equalizar os déficits bilaterais. Surpreendentemente, as tarifas aplicadas foram bastante diferentes das médias dos países-alvo: 46% sobre o Vietnã, cuja tarifa média é de apenas 9%, e 32% sobre Taiwan, com média de 2%. Essas ações não eram realmente recíprocas e acabaram penalizando consumidores americanos e empresas dependentes de produtos importados.
Estudos indicam que a maior parte dos custos das tarifas acaba sendo repassada ao consumidor final e às empresas americanas, ao contrário do que o governo alegava, que dizia que apenas 25% dos custos seriam arcados pelos usuários. Essa distorção reduz os benefícios alegados de uma política tarifária agressiva.
Fatores econômicos ignorados na política tarifária de Trump
Outro erro grave foi a subestimação dos efeitos das tarifas nas taxas de câmbio e nas cadeias globais de suprimentos. Tarifas elevadas provocam movimentos cambiais que podem anular seus efeitos sobre o déficit comercial. Além disso, as políticas tarifárias dificultam a competitividade das exportações americanas, especialmente quando impedem o uso eficiente de componentes importados na produção.
Trump também aplicou tarifas a países com os quais os EUA apresentam superávits, como Austrália e Brasil, contradições evidentes em sua narrativa de combate a déficits. Sua política também desconsiderou o peso do setor de serviços — como a exportação de educação superior — que representa uma parte importante do comércio internacional dos EUA, sendo alvo de ataques que prejudicam essa área.
Perspectivas e impactos futuros
Especialistas alertam que a estratégia tarifária baseada em retaliações e protecionismo pode enfraquecer não apenas as relações comerciais, mas também a economia interna, ao elevar preços e reduzir a competitividade. Além disso, o uso de tarifas como ferramenta de negociação revela uma compreensão superficial de economia, que ignora os efeitos econômicos mais amplos e complexos.
O legado dessas políticas, que foram marcadas por contradições e a ausência de uma análise profunda dos efeitos econômicos, sugere que, embora possam oferecer ganhos políticos de curto prazo, sua implementação pode prejudicar o crescimento sustentável e a estabilidade do sistema de comércio global a longo prazo.