Brasil, 27 de julho de 2025
BroadCast DO POVO. Serviço de notícias para veículos de comunicação com disponibilzação de conteúdo.
Publicidade
Publicidade

Programas de transferência de renda e o debate sobre incentivos ao desemprego

Especialistas analisam se benefícios sociais, como o Bolsa Família, desestimulam a busca por empregos formais em um cenário de desemprego recorde

Com as taxas de desemprego alcançando níveis mínimos históricos e empresas relatando dificuldades para contratar, cresce o debate sobre se os programas de transferência de renda poderiam estar influenciando a busca por empregos formais.

Transferências de renda e seu impacto no mercado de trabalho

Apesar de a percepção de que benefícios como o Bolsa Família possam estar “acomodando” trabalhadores não ser respaldada por estatísticas, especialistas afirmam que o país precisa ampliar investimentos em áreas como educação e saúde, além de gerar empregos de qualidade. Dados do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) mostram que, em 2024, 98,87% das vagas formais criadas foram ocupadas por beneficiários do Cadastro Único, sendo 75,5% pelo público atendido pelo Bolsa Família.

O perfil dos beneficiários e suas trajetórias

Segundo o governo, cerca de um milhão de famílias deixaram o Bolsa Família em julho, após aumento de renda que ultrapassou os limites do programa. O Cadastro Único, que registra famílias com renda per capita inferior a meio salário mínimo (R$ 759), serve de base para ações sociais, incluindo o auxílio emergencial PAB e o programa Renda Básica de Cidadania (RBC). Andréia Alves, beneficiária do Bolsa Família em Maricá, relata que a ajuda foi fundamental para ela lidar com o diagnóstico de câncer e manter a família. “Uso o dinheiro para me manter e também para empreender. Quero guardar para comprar uma casa”, afirmou.

Dados do IBGE indicam que o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC) atingem maior alcance entre os mais pobres, embora iniciativas regionais também estejam aprimorando a focalização.

Fatores que influenciam a decisão de não buscar emprego

Especialistas destacam que a baixa oferta de vagas com boas condições de trabalho, como longas jornadas e salários baixos, desestimula muitos indivíduos, especialmente mães solo, a buscarem oportunidades formais. “Se a única vaga exige tanta dedicação e não garante uma renda digna, muitas vezes não compensa”, explica Rafael Osório, do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS).

Qualidade das vagas e a informalidade

O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Pedro Ferreira de Souza, afirma que a ideia de que o benefício ‘‘acomoda’’ trabalhadores é empírica e que o Brasil possui um setor informal resiliente, com milhões vivendo de trabalhos intermitentes e autônomos. “O país nunca conseguiu universalizar o emprego formal, e programas como o Bolsa Família não estimulam a informalidade”, reforça.

Desafios fiscais e a sustentabilidade dos programas sociais

Apesar do sucesso na ampliação de cobertura, especialistas alertam para o risco de deterioração fiscal se os programas não forem bem planejados. Laura Machado, do Insper, destaca que uma análise detalhada do custo de vida e das linhas regionais de pobreza é essencial para garantir a continuidade e o ajuste das ações sociais.

Ela aponta que, em regiões como São Paulo, onde o custo de vida é mais alto, faz sentido ampliar a complementação do Bolsa Família. Contudo, seria necessário também fortalecer as portas de saída do mercado de trabalho, especialmente em locais com maior oferta de empregos.

Experiências bem-sucedidas e recomendações

O Distrito Federal, por exemplo, criou o programa DF Sem Miséria, que unificou recursos e racionalizou gastos, aprimorando a efetividade das ações. Para os especialistas, investir em educação, saúde e ações de longo prazo é mais sustentável do que soluções rápidas e isoladas, que muitas vezes não avaliam sua eficácia.

“A combinação de transferência de renda com melhorias na qualidade de vida e na oferta de serviços é fundamental”, conclui Laura Machado. Ela reforça que o monitoramento e a coordenação entre os níveis de governo podem potencializar os resultados das políticas sociais.

PUBLICIDADE

Institucional

Anunciantes