Na era digital, os jovens da geração Z têm expressado uma forte desaprovação aos relacionamentos com diferenças de idade, especialmente quando há assimetrias de poder percebidas. Embora muitos desses vínculos sejam legais, a preocupação com a moralidade e consentimento está cada vez mais presente nas discussões online.
Resistência e debates nas redes sociais
Para os integrantes da geração Z, que cresceu acompanhando movimentos como o #MeToo, a questão não é apenas legal, mas também ética. Eles questionam exemplos de celebridades com diferenças de idade, como o caso da atriz Billie Eilish e o músico Jesse Rutherford, e criticam situações onde percebem um desequilíbrio de poder, como casais com diferenças de mais de dez anos.
Um exemplo que gerou repercussão foi o romance entre Aoki Lee Simmons, filha de Kimora Lee Simmons, e Vittorio Assaf, de 65 anos. Apesar de ambos serem adultos consententes, internautas consideraram a relação inadequada, reforçando a opinião de que a maturidade emocional pode não estar completamente desenvolvida em certas idades, como ressaltado por especialistas na área de psicologia.
Concepções sobre idade e maturidade
Alguns jovens acreditam que a idade legal, como os 18 anos, não é suficiente para determinar se um relacionamento é saudável, especialmente se considerarem que o desenvolvimento cerebral completo ocorre mais tarde. “Adulthood foi feito para votar e se alistar, não para tudo”, afirmou uma jovem em rede social.
No entanto, há opiniões divergentes. Para o estudante Mona, de 21 anos, relacionamentos com diferenças menores, como três anos ou menos, são mais aceitáveis, enquanto diferenças maiores despertam desconforto, sobretudo quando envolvem figuras públicas ou pessoas que parecem se aproveitar de jovens.
Percepções e críticas à influência cultural
Especialistas como Justin Lehmiller apontam que a desconfiança em relação a relacionamentos com diferenças de idade é antiga, mas que a postura da geração Z se diferencia por sua abertura para questionar publicamente e por uma maior sensibilidade às dinâmicas de poder, alimentada pelo contexto do #MeToo. Lehmiller destaca que, enquanto antes o foco era apontar ambos os lados, atualmente a narrativa se volta a rotular as jovens como vítimas em potencial, acusadas de serem “presas” ou “groomed”.
Para a psicoterapeuta Gigi Engle, o uso do termo “grooming” (preparação/prejuízo) tem sido exagerado, o que pode prejudicar o entendimento real do que constitui uma relação abusiva ou não, sobretudo quando o relacionamento é entre adultos consententes. Segundo ela, essa superproteção reflete umazeit de medo, potencialmente alimentada pela exposição precoce a conteúdos sensíveis na internet.
Opiniões variadas entre os jovens
Entre os jovens ouvidos para esta matéria, há uma grande diversidade de opiniões. Layla, de 23 anos, acredita que relacionamentos com uma diferença de mais de dois ou três anos podem ser problemáticos, especialmente entre jovens adultos, por questões de maturidade e experiências de vida. Mona, mesma idade, acha que idades próximas são preferíveis, mas considera aceitável uma diferença de até três anos. Ela também menciona sua própria visão sobre exemplos de relacionamentos públicos com diferenças de idade, como a de Beyoncé e Jay-Z, considerando-a aceitável quando baseada em compatibilidade.
Rei, de 22 anos, um_space LGBTQIA+, enxerga diferenças de idade como menos problemáticas, destacando a normalidade dessas relações na comunidade gay, onde múltiplos exemplos de idades variadas coexistem. Para eles, o foco não deve estar apenas na idade, mas na dinâmica de poder e consentimento.
Reflexões finais e impacto social
Para muitos desses jovens, a preocupação maior está no uso tendencioso do termo “grooming” e na preocupação de que a sociedade esteja aplicando uma moral duvidosa às relações adultas, baseando-se em uma visão mais moralista do que factual. Além disso, a discussão reflete uma resistência a regras rígidas e a um desejo de autonomia na escolha de seus parceiros, enquanto navegam por um mundo que expõe suas vulnerabilidades na internet desde cedo.
Embora as opiniões variem, a maioria dos jovens da geração Z defende o princípio de que, enquanto for uma relação entre adultos consententes, ela deve ser respeitada, mesmo que cause desconforto ou críticas externas.