O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o assessor especial para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, criticaram nesta semana a ameaça do governo Donald Trump de impor uma tarifa de 50% às exportações brasileiras aos Estados Unidos. A medida foi anunciada pelo ex-presidente americano e deve passar a valer a partir de 1º de agosto, gerando preocupação no governo brasileiro.
Dificuldades de negociação com os EUA e postura de Trump
Celso Amorim afirmou ao jornal britânico *Financial Times* que a tentativa de interferência de Trump nos assuntos internos do Brasil é sem precedentes na história diplomática, chegando a afirmar que “nem a União Soviética teria feito algo assim”. Segundo o ex-ministro, a iniciativa de Trump visa agir politicamente em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro, seu aliado, e representa uma tentativa de manipulação para influenciar o cenário político brasileiro.
As tarifas, anunciadas por Trump em 9 de julho, foram justificadas pelo presidente americano com a necessidade de retaliar o tratamento dado à Bolsonaro pela Justiça brasileira no caso envolvendo uma acusação de tentativa de golpe de Estado. Lula classificou a ameaça como uma “chantagem inaceitável”, reforçando sua postura de resistência ao pressionamento externo.
Luta por diversificação e reforço dos blocos internacionais
No contexto da crise, Amorim destacou que o Brasil pretende aprofundar sua participação no bloco dos Brics, apesar das pressões de Trump. O ex-chanceler ressaltou que o governo brasileiro busca diversificar suas relações internacionais, fortalecendo vínculos com países da Europa, Ásia e América do Sul, afastando-se de uma dependência excessiva dos Estados Unidos.
O ex-ministro também explicou que, embora a China seja o maior parceiro comercial do Brasil, o objetivo do país não é que Pequim seja o principal beneficiário das tarifas elevadas impostas por Washington. Além disso, afirmou que o bloco dos Brics não possui caráter ideológico, mas sim o objetivo de apoiar a ordem multilateral global diante da postura unilateral dos EUA sob Trump.
Ameaças comerciais e avanços diplomáticos
O governo brasileiro tenta negociar uma solução para a questão, com Lula afirmando estar à disposição para conversar com Trump. O mandatário brasileiro escalou o vice-presidente Geraldo Alckmin, considerado um negociador experiente, para tratar da possível suspensão das tarifas. Entretanto, autoridades brasileiras têm reclamado publicamente da ausência de canais de diálogo efetivos com a Casa Branca.
Além dos Estados Unidos, sinais de interesse em acordos comerciais vêm de países como o Canadá, que demonstrou interesse em negociar livre comércio com o Brasil, além da expectativa de maior envolvimento da região na integração regional da América do Sul durante o último ano do governo Lula.
Críticas e perspectivas futuras
Para Amorim, a postura de Trump reflete uma abordagem de diplomacia baseada no poder absoluto, que, na visão dele, representa um caos nas relações diplomáticas globais. “Trump não tem amigos nem interesses, só desejos”, afirmou, destacando o caráter incomum de sua política exterior.
Na mesma linha, Lula também mudou de tom e admitiu a possibilidade de negociar a tarifa de 50% com os Estados Unidos, destacando que o governo tem tentado estabelecer canais de diálogo, embora sem sucesso até o momento. Entre atores políticos brasileiros, governadores de oposição criticaram a estratégia do governo federal, destacando a necessidade de uma postura mais estratégica nas negociações internacionais.
Com a entrada em vigor da tarifa cada vez mais próxima, o clima de tensões deve continuar, marcando um momento delicado na relação entre Brasil e Estados Unidos.