Seis dias após os Estados Unidos anunciarem que taxariam produtos brasileiros em 50%, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, se reuniu com um grupo de grandes empresários em Brasília. Alckmin, que assumiu o papel de principal interlocutor do governo nas negociações, preparou uma pauta com pontos a serem discutidos, tomando notas a cada intervenção dos executivos, sempre com a cautela necessária para evitar compromissos excessivos em um cenário econômico incerto.
A pressão para 2026
Com a crise ligada às tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos, as movimentações de Alckmin não são apenas focadas na resolução do problema comercial. Ele já foi definido como o “conversador número 1” por Lula, um gesto que também visa fortalecer sua posição para uma potencial candidatura ao Senado por São Paulo ou até mesmo à governadoria. A pressão do Partido dos Trabalhadores (PT) por sua candidatura se acentua, especialmente em um ano eleitoral marcado por grandes disputas.
Possíveis consequências das negociações
Enquanto Alckmin trabalha para solucionar a questão do tarifaço, outros interlocutores no Planalto analisam o impacto das negociações em sua candidatura a uma vaga na chapa presidencial. A percepção é de que, se não tivermos sucesso nas negociações, isso poderá causar desgaste também à sua imagem, pondo em risco suas chances futuras.
Os desafios do papel de vice
Apesar das articulações, o entorno de Alckmin afirma que o vice-presidente se sente confortável com seu papel atual e não está focado apenas nas eleições de 2026. Desde o início de seu mandato, Alckmin se dedicou a construir relacionamentos com prefeitos e a se envolver em ações do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), intentando mostrar que não é um “vice decorativo”.
De acordo com o presidente do PSB, João Campos, a postura de Alckmin tem sido admirada, já que ele busca soluções que garantam previsibilidade e respeito aos acordos comerciais internacionais. Essa abordagem equilibrada é vista como um trunfo nas negociações com os EUA.
Articulação política em meio à crise
Recentemente, Alckmin participou de um almoço no Palácio da Alvorada com Lula e outros líderes, onde a costura eleitoral e o tarifaço foram os temas centrais. A articulação busca criar um palanque competitivo para Lula em São Paulo, onde o atual governador, Tarcísio de Freitas, obteve uma vitória expressiva nas últimas eleições.
Outro fator a ser considerado é a popularidade de Lula, que pode influenciar a permanência de Alckmin como vice. No entanto, se as negociações com o governo americano não avançarem, isso poderá trazer consequências negativas tanto para Lula quanto para Alckmin.
O futuro da relação Brasil-EUA
Alckmin coordena as conversas com a Embaixada dos Estados Unidos e já se reuniu com o secretário de Comércio americano, onde expressou a disposição do Brasil para resolver a situação. De acordo com Alckmin, a prioridade do governo é dialogar para derrubar a taxação até 1º de agosto. Contudo, o cenário está se tornando cada vez mais desfavorável.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, elogiou o estilo de Alckmin nas negociações e destacou que sua experiência é vital para conseguir uma negociação vantajosa para o Brasil. Para ele, a postura equilibrada de Alckmin é um ativo importante na construção de um diálogo produtivo.
Enquanto isso, as movimentações políticas em torno de Alckmin continuam, e sua história pessoal de recuperação após sua derrota em 2018 pode servir como tremendo exemplo de resiliência. Desde então, ele tem se esforçado para não apenas recuperar seu espaço na política, mas também agregar valor à administração de Lula, atuando como um mediador crucial em um momento de incertezas econômicas.
Como Alckmin e o governo brasileiro continuam a negociar com os Estados Unidos, o que se desdobra a partir dessas conversas poderá ter implicações significativas, tanto para a economia brasileira quanto para a próxima eleição presidencial.