A Venezuela anunciou nesta semana a retomada da cobrança de tarifas que chegam a 77% sobre exportações brasileiras, incluindo produtos com certificados de origem que deveriam estar isentos de importação, conforme acordo de 2014. A medida foi confirmada poucos dias antes da aplicação de uma sobretaxa de 50% prevista pelos Estados Unidos para produtos brasileiros, sem explicações oficiais do governo venezuelano.
Impacto na relação comercial e política entre Brasil e Venezuela
Segundo o presidente da Câmara Venezuelana Brasileira de Comércio de Roraima, Eduardo Oestreicher, a cobrança total do imposto ad valorem foi uma surpresa para empresários brasileiros, especialmente aqueles de Roraima, estado mais atingido pela decisão. “Na sexta-feira, dia 18, fomos surpreendidos com essa cobrança, sem entender se foi por motivos políticos ou técnicos”, afirmou ao GLOBO. Ele também informou que solicitou ajuda à Embaixada do Brasil em Caracas.
A medida ocorre em um momento de tensões diplomáticas, já que o Brasil não reconheceu a legitimidade da reeleição de Nicolás Maduro, e as relações entre os dois países estão abaladas desde julho do ano passado. A Venezuela também rompeu relações com a Argentina e suspendeu o país do Mercosul desde 2016, por alegações de ruptura da democracia. O país vizinho mantém atualmente acordos bilaterais com outros países do Mercosul, como Argentina, Paraguai e Uruguai.
Consequências econômicas e estratégicas
O governo brasileiro deve divulgar uma nota oficial sobre o impacto da medida venezuelana nas importações e exportações. No último ano, o Brasil exportou cerca de US$ 1,2 bilhão para a Venezuela, principalmente commodities alimentícias como açúcar, arroz e milho; e importou US$ 422 milhões, priorizando alumínio, produtos químicos e fertilizantes. O comércio bilateral gerou um superávit de quase US$ 778 milhões no período.
Especialistas apontam que a retomada das tarifas pode afetar ainda mais o comércio entre os países e prejudicar o relacionamento diplomático, que já enfrenta dificuldades devido a desentendimentos políticos. Além disso, a medida acontece em um contexto de pressões externas, especialmente dos Estados Unidos, que planejam aplicar tarifas adicionais ao Brasil em breve.
Novos desdobramentos e próximas ações
A expectativa é que o governo brasileiro envie uma resposta formal às ações venezuelanas e avalie medidas de retaliação ou negociação. O governo de Nicolás Maduro, por sua vez, não forneceu justificativas para a decisão de reintroduzir tarifas, mantendo a postura de pressão sobre o Brasil enquanto enfrenta suas próprias dificuldades políticas e econômicas.
A situação reforça o clima de instabilidade nas relações comerciais e diplomáticas na região, que pode gerar novos obstáculos para a retomada de acordos multilaterais e para o fortalecimento do comércio bilateral.