Os produtores de mel orgânico do Piauí tiveram 152 toneladas de seu produto que iriam para os Estados Unidos canceladas em apenas duas semanas, após o anúncio do presidente Donald Trump de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Os produtos estavam armazenados na Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro (Casa Apis), no município de Picos.
Impacto financeiro e perdas na exportação do mel
Segundo Sitônio Dantas, presidente da Casa Apis, a suspensão na exportação representa um prejuízo estimado de R$ 2,5 milhões. O valor poderia ser ainda maior, já que o grupo normalmente envia quatro contêineres por semana para os EUA, e, com o aumento dos custos, os compradores americanos interromperam as negociações. O último envio realizado pela cooperativa foi no dia 13 de julho, de 95 toneladas de mel orgânico, após uma tentativa de manter a exportação.
O transporte das toneladas de mel até o Porto do Pecém, no Ceará, custava mais de R$ 4 mil por contêiner, o que significa um prejuízo de mais de R$ 48 mil apenas em transporte devido ao cancelamento dos envios. Os produtos deveriam percorrer cerca de 550 km por transporte terrestre até o porto, mas agora permanecem armazenados, aguardando o desfecho da situação.
Consequências para os produtores locais
De acordo com Sitônio Dantas, o grupo conta com reservas financeiras para continuar adquirindo mel dos pequenos produtores. Contudo, ele alertou que a continuidade das compras depende da retomada dos mercados internacionais. “Temos um capital reserva, mas não sabemos até quando vamos conseguir manter as compras. O dinheiro está parado e o prejuízo se acumula”, afirmou.
Outro grupo importante, o Grupo Sama, também localizado no Piauí, sofre o impacto da decisão ao cancelar 585 toneladas de mel orgânico, afetando uma das maiores processadoras e exportadoras do setor no mundo.
O contexto do mel orgânico e seus destinos de exportação
O mel produzido no Semiárido do Piauí, processado pela Casa Apis, tem como principais mercados os Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e países europeus. Produzido segundo práticas sustentáveis e regulamentações nacionais, o mel orgânico difere do convencional por não utilizar fertilizantes, pesticidas ou inseticidas, além de exigir que as abelhas estejam em um raio mínimo de três quilômetros de áreas livres de agroquímicos.
Segundo Darcet Souza, especialista na área, poucas regiões do Brasil atualmente conseguem produzir mel orgânico devido às exigências de manejo e às condições ambientais. “O mel orgânico é um alimento de alto valor agregado, com risco quase zero à saúde pelo fato de não conter resíduos de pesticidas. Após a pandemia de Covid-19, a busca por alimentos saudáveis e sustentáveis cresceu ainda mais”, afirmou.
Perspectivas futuras e desafios do setor
O impacto das tarifas de Trump evidencia os desafios enfrentados pelos produtores brasileiros de mel orgânico no mercado internacional. A valorização do produto devido às suas condições sustentáveis e de saúde poderia favorecer a retomada das exportações assim que a situação se normalizar. Entretanto, a atual suspensão acarreta perdas financeiras significativas e ameaça a estabilidade do setor no Nordeste brasileiro.
Especialistas ressaltam que a crescente demanda por alimentos orgânicos no Brasil e no mundo reforça a importância de políticas comerciais alinhadas com práticas sustentáveis e de alta qualidade. Ainda assim, a dependência de mercados externos e as tensões comerciais representam obstáculos que o setor precisa superar para consolidar seu crescimento.
