O generale da reserva Mário Fernandes, ex-número dois da Secretaria-Geral da Presidência durante o governo de Jair Bolsonaro, foi destacado na denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) como um dos líderes mais radicais por trás de um suposto plano de assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre Moraes. Em interrogatório realizado no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira, o militar admitiu ser o autor do documento conhecido como “Plano Punhal Verde e Amarelo”, que, segundo a Polícia Federal, traçava cenários de homicídio contra as três autoridades.
Depoimentos e implicações
Fernandes, que é réu no processo relativo ao chamado “núcleo 2” da tentativa de golpe de Estado, falou pela primeira vez desde sua prisão em novembro do ano passado. Na ocasião, minimizou o conteúdo que foi encontrado em seus dispositivos eletrônicos, alegando que se tratava de uma análise pessoal. “Esse arquivo digital, que retrata um pensamento meu que foi digitalizado, é um estudo de situação”, afirmou ele durante seu depoimento.
Ao longo do interrogatório, o general tentou despolitizar o documento, argumentando que o material foi impresso apenas para uma leitura pessoal e que, logo depois, foi rasgado. “Imprimi por um costume pessoal de evitar ler documentos na tela. Imprimi para mim. Logo depois, rasguei”, disse Fernandes. Contudo, o conteúdo apreendido pela PF descreve estratégias para atacar autoridades públicas e fundamenta uma parte significativa da denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República no caso principal da tentativa de golpe.
O conteúdo do “Plano Punhal Verde e Amarelo”
O “Punhal Verde e Amarelo” foi impresso por Fernandes no Palácio do Planalto e previa a criação do “Gabinete Institucional de Gestão da Crise”, que deveria ser ativado em 16 de dezembro de 2022, logo após os assassinatos. O próprio general da reserva seria o assessor estratégico deste gabinete, que entraria em operação após a execução do plano. A PF destaca que Fernandes é um dos militares mais radicais envolvidos no planejamento do golpe, como mencionado no relatório do colaborador Mauro César Barbosa Cid.
No contexto da investigação, confirmou-se que o general estava por trás de operações de monitoramento de Moraes enquanto era secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência. Os documentos apontam que Fernandes organizava uma operação que envolvia o controle de informações e potenciais ações contra o ministro do STF.
Relações políticas e envolvimento em ações golpistas
Em sua trajetória, Fernandes atuou como assessor do deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro de Bolsonaro. Pazuello declarou que Fernandes trabalhou em seu gabinete até março de 2024, quando foi identificado seu impedimento. E, além disso, em uma reunião anterior às eleições de 2022, com a presença de Jair Bolsonaro e outros ministros, Fernandes questionou a necessidade de um novo golpe semelhante ao de 1964.
A PF também encontrou evidências da participação de Fernandes em manifestações que defendiam a ruptura democrática após a derrota de Bolsonaro. O relatório da PF indica que ele participou ativamente do planejamento, da coordenação e da execução de atos antidemocráticos, mantendo ainda contato direto com bolsonaristas em acampamentos nas proximidades do Quartel General do Exército.
Além disso, foi relatado que ele teve conversas diretas com o então presidente Jair Bolsonaro, expressando preocupação com a condução dos atos golpistas, temendo que perdessem força. As mensagens e áudios trocados entre Fernandes e o ex-chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, inclusivamente refletem o estado de frustração de Fernandes em relação às Forças Armadas durante o período turbulento.
Perfil de Mário Fernandes
Filho de militar e de professora, Mário Fernandes nasceu em Brasília (DF) e ingressou no Exército em 1983. Especializado em ciência e arte da guerra, ele acumulou diversas condecorações ao longo de sua carreira. Assim como Bolsonaro, ele é paraquedista e, atualmente, é investigado por suas ações que ameaçam a democracia no Brasil.
Com diferentes elementos, os desdobramentos deste caso revelam os tentáculos da radicalização que emergiram após as eleições de 2022 e a gravidade das ameaças que pairam sobre as instituições democráticas do país. O julgamento e os desfechos dessas investigações são cruciais para a construção de um ambiente político mais seguro e respeitoso no Brasil.