No cenário político brasileiro, a revelação de um esquema de assassinato visa líderes democráticos representa um marco alarmante. O ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência durante o governo de Jair Bolsonaro, o general da reserva Mário Fernandes, admitiu sua autoria em um plano chamado “Punhal Verde Amarelo”. As investigações da Polícia Federal (PF) revelam que o documento esboçava cenários para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal a respeito da tentativa de golpe. Essa revelação levanta questões sobre a segurança de figuras centrais da política brasileira e o papel das instituições na definição do futuro democrático do país.
Os detalhes do plano “Punhal Verde Amarelo”
O plano “Punhal Verde Amarelo” não é a única evidência que incrimina Mário Fernandes; um relatório da PF detalha outros elementos que sugerem sua participação em uma trama de golpe de Estado. Um documento adicional, que delineava a criação de um Gabinete de Crise após o golpe, foi impresso no Palácio do Planalto utilizando um login vinculado a Fernandes. As impressões foram numerosas, levantando suspeitas sobre a disseminação do material entre outros colaboradores, possivelmente em reuniões estratégicas. Este contexto sugere uma rede de conivência que se estende além de um único indivíduo.
Evidências na linha do tempo
No dia seguinte às impressões dos documentos no Planalto, Mário Fernandes foi ao Palácio da Alvorada, onde Jair Bolsonaro ficou em reclusão nos meses finais de seu governo. Esses encontros parecem não ser meramente casuais, mas potencialmente uma parte de uma rede mais ampla de comunicação entre figuras chave que conspiravam para desestabilizar o governo atual.
A PF identificou uma série de atividades obscuras durante o período em que o plano foi desenvolvido, incluindo um monitoramento sistemático do ministro Alexandre de Moraes. De fato, as operações de monitoramento, que começaram em novembro de 2022, visavam não apenas intimidar, mas possivelmente desmantelar as bases do Judiciário, um pilar essencial da democracia.
O depoimento de Mário Fernandes
Em seu depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), Fernandes minimizou a importância do plano, apresentando-o como uma mera análise de riscos feita por hábito pessoal. Ao afirmar que o documento era um “pensamento digitalizado”, o general tentou afastar a noção de que o plano possuía qualquer objetivo prático. Ele insistiu que o material foi impresso para leitura pessoal e que logo em seguida foi destruído, uma justificativa que, no entanto, levanta mais questionamentos do que respostas.
— Imprimi por um costume pessoal de evitar ler documentos na tela. Imprimi para mim. Logo depois, rasguei — declarou o ex-secretário executivo, tentando assim desviar a atenção das graves implicações de suas ações.
Comunicações com o Comando do Exército
Outro aspecto preocupante da investigação é um texto encontrado durante a operação da PF, endereçado ao então comandante do Exército, general Freire Gomes. Esse documento incitava uma adesão a um golpe de Estado, numa clara alusão à necessidade de um “evento disparador”, uma referência explícita ao golpe militar de 1964. A PF destaca que Fernandes foi um “elemento de extrema relevância” no planejamento do golpe, ligando suas comunicações com outros militares durante o período conturbado.
As mensagens enviadas por ele, tanto no dia 7 de dezembro quanto em comunicações anteriores, revelam uma conexão direta com os esforços de Bolsonaro para instaurar um estado de sítio e garantir o controle sobre as forças armadas. A proximidade entre Fernandes e figuras militares proeminentes, como o tenente-coronel Mauro Cid, destaca a intrincada rede de apoio e coordenação entre uma facção militar revolucionária.
A sombra do golpe: repercussões e implicações
A gravidade das alegações contra Mário Fernandes sublinha um momento crítico na política brasileira. As tentativas de desestabilizar a democracia e eliminar líderes influentes expõem a fragilidade das instituições e o risco que representa para um sistema democrático tranquilo. A resposta das autoridades e o papel da Polícia Federal na investigação serão cruciais para restaurar a confiança nas instituições e garantir a segurança de líderes democráticos.
Com as investigações em andamento, as revelações sobre as intenções de um golpe militar trazem à tona um panorama sombrio que muitos brasileiros desejam ver superado. Portanto, fica a pergunta: como o governo e a sociedade civil reagirão a essa ameaça latente e protegerão os pilares democráticos do país?