No julgamento que acontece no Supremo Tribunal Federal (STF), os réus acusados de tentativa de golpe de Estado, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, defendem que os documentos apreendidos pela Polícia Federal (PF) não passam de anotações pessoais. Essa linha de argumentação tem sido repetida durante o processo e levanta questões sobre a natureza do que realmente configura um crime dentro de um contexto político conturbado.
O que foi encontrado e suas implicações
Na última quinta-feira, o general da reserva Mário Fernandes, que foi o ex-número dois da Secretaria-Geral da Presidência durante o mandato de Bolsonaro, explicou que o chamado “Plano Punhal Verde Amarelo”, que previa assassinatos de figuras como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Alexandre de Moraes, era apenas “um estudo de situação”. Fernandes alegou que o documento digital, que fez por “hábito pessoal”, não foi compartilhado com terceiros e que após imprimi-lo, decidiu rasgá-lo, dentro de um ritual para evitar a leitura na tela.
Além de Fernandes, o ex-ministro Augusto Heleno, que chefiou o Gabinete de Segurança Institucional, teve sua agenda apreendida. O documento, segundo ele, continha apenas anotações pessoais, afastando a possibilidade de ser usado para qualquer intento golpista. “Era um documento particular, secreto, que não apresentava nada que pudesse levar ao julgamento de que essa agenda era uma ‘caderneta golpista’”, defendeu Heleno durante seu interrogatório.
A posição de outros réus e a visão de especialistas
Outro envolvido, o deputado federal Alexandre Ramagem, também negou as acusações, afirmando que suas anotações questionando as urnas eletrônicas eram meras “opiniões privadas”, sem intenção de difundi-las ou compartilhá-las com Bolsonaro. Segundo Ramagem, as anotações eram uma forma de organizar suas ideias, e não um documento que sugerisse um plano concreto de ação.
A defesa argumenta que a mera posse de documentos com teor criminoso, se não foram colocados em prática ou enviados a alguém, não configura crime. O professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Thiago Bottino, analisa que se as anotações forem consideradas apenas reflexões pessoais, isso pode atenuar a responsabilidade dos réus. “São alegações que eu compreendo, mas aí entre dar uma explicação razoável e alguém acreditar nele são outros 500”, alerta Bottino, enfatizando que o contexto é crucial.
A gravidade das acusações e a argumentação da defesa
No entanto, Bottino destaca que o caso de Mário Fernandes é diferente, pois o plano de assassinato foi impresso em várias cópias e havia ações sendo planejadas para monitorar os alvos. A PF coletou provas que indicam que esse plano de assassinato não apenas existiu, mas também estava em processo de execução. “Se isto estava sendo preparado e o réu tomou ações para concretizá-lo, isso pode ser considerado uma tentativa de crime”, explica o professor.
A linha de defesa que considera tudo como meras anotações persiste, mas à medida que emergem novos detalhes, a questão torna-se mais complexa, levando em conta as ações dos réus, o contexto histórico e político da época em que os documentos foram gerados. Bottino destaca que, mesmo que consigam provar que as anotações foram apenas um delírio golpista, a situação muda drasticamente se houve encaminhamento a algum outro envolvido ou se buscou apoio para a intenção.
Conclusão: O que vem a seguir?
À medida que o julgamento avança, a decisão do STF será crucial não somente para os réus, mas também para a política brasileira de forma mais ampla. O que está em jogo não são apenas as liberdades individuais, mas também o futuro do sistema democrático no Brasil. A complexidade do caso, com suas múltiplas camadas de evidências e tensões políticas, continua a instigar debates acalorados em todo o país.
As consequências das alegações e as respectivas defesas colocadas à frente do tribunal serão analisadas à luz de todo o contexto, o que poderá afetar não apenas os réus, mas a percepção pública da integridade das instituições democráticas no Brasil.