Quase 24 horas após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), manter as medidas cautelares impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a defesa do ex-mandatário ainda analisa se é apropriado permitir que ele retorne a fazer declarações públicas ou se será melhor manter a mesma cautela dos últimos dias.
Restrições e incertezas na comunicação
Embora Moraes tenha afirmado, em seu despacho, que Bolsonaro nunca esteve proibido de falar com a imprensa, a decisão reforça que ele segue impedido de usar redes sociais, mesmo de forma indireta. Esse detalhe gera dúvidas entre os advogados, que temem que a replicação de entrevistas por terceiros, inclusive por veículos de comunicação, em plataformas digitais possa ser interpretada como uma violação da ordem judicial.
O advogado Celso Vilardi, que lidera a defesa de Bolsonaro, avaliou ao GLOBO que o cenário é positivo, mas explicou que a equipe jurídica ainda está estudando os efeitos práticos da decisão. “Acho que ele pode dar entrevistas, sim, mas estamos avaliando com calma”, afirmou Vilardi.
Bolsonaro espera orientações da defesa
Nesta quinta-feira, ao deixar a sede do PL em Brasília, Bolsonaro também demonstrou incerteza quanto aos limites das restrições impostas. “Não está claro o que eu posso ou não posso falar. Então aguardo meus advogados, que são muito bons e vão me dar um parecer amanhã. Não posso errar. Gostaria muito de falar com vocês, mas o que vai acontecer depois, a gente não sabe”, disse o ex-presidente a jornalistas.
Nos últimos dias, ele tem se reunido com aliados na sede do partido, mantendo encontros reservados. Há expectativa de que permaneça mais um dia no local, evitando aparições públicas até que tenha uma orientação mais clara de sua defesa.
A avaliação das medidas cautelares
Na terça-feira, em uma manifestação enviada ao STF, os advogados de Bolsonaro negaram que ele tenha desrespeitado as medidas cautelares. Eles argumentaram que a republicação de suas falas em redes sociais de terceiros foge ao controle do ex-presidente e não pode ser atribuída a ele. Contudo, Moraes reiterou que esse tipo de divulgação representa uma tentativa de contornar as restrições e manteve a proibição do uso de redes sociais, mesmo através de intermediários.
O ministro citou o exemplo da veiculação nas redes sociais de Eduardo Bolsonaro, que republicou um discurso do ex-presidente na Câmara dos Deputados “momentos após o acontecimento”. Moraes declarou: “Constata-se a tentativa de burlar a medida cautelar, demonstrando a utilização do ilícito modus operandi anteriormente citado”.
Assim, a defesa de Jair Bolsonaro continua num dilema, entre a necessidade de comunicação com a população e as restrições impostas pela justiça. A decisão que será tomada nas próximas horas poderá impactar significativamente a sua estratégia política e presença pública no cenário nacional, conforme ele ainda busca entender as implicações legais do que pode ou não dizer. A situação exige cuidados redobrados, vista a possibilidade de interpretações que possam resultar em novas ações judiciais.
Enquanto isso, a expectativa da publicização de qualquer declaração do ex-presidente permanece, com seus apoiadores e a imprensa aguardando os próximos passos. A tensão em torno dessa decisão reflete a fragilidade da situação política e legal que ainda envolve Bolsonaro, que, mesmo diante de restrições, continua a ser uma voz influente na política brasileira.