Nos dias que antecederam a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que manteve restrições ao ex-presidente Jair Bolsonaro, intensas discussões sobre os efeitos do novo despacho tomaram conta da Corte. A maioria dos ministros acredita que a determinação funciona como um “alerta” ao ex-mandatário, indicando que, neste momento, a prisão preventiva não é necessária.
Medidas cautelares mantidas
Moraes decidiu manter todas as restrições, que incluem o uso de tornozeleira eletrônica, proibição de comunicação com outros investigados, como Eduardo Bolsonaro, e autoridades estrangeiras, além do veto à aproximação de embaixadas e consulados e o recolhimento domiciliar noturno e nos fins de semana. O ministro afirmou que Bolsonaro descumpriu a proibição de utilizar as redes sociais, imposta uma semana antes, mas considerou a infração como uma “irregularidade isolada”, evitando, por ora, a detenção.
Em seu pronunciamento, Moraes alertou que, caso haja nova violação, a prisão será “imediata”. O magistrado também esclareceu que Bolsonaro não está impedido de conceder entrevistas, um ponto que havia gerado dúvidas por parte da defesa no dia anterior.
Discussões internas sobre as restrições
Em reuniões reservadas, a maioria dos ministros do STF avaliou que a implementação de medidas cautelares é justa. A questão que despertou maior debate foi o alcance da proibição do uso de redes sociais, considerada uma tarefa complexa. No entanto, a avaliação geral após a decisão de Moraes é que esses limites servem como um aviso ao ex-presidente, que adotou um tom mais cauteloso após a decisão.
Ao longo dos dias que precederam a decisão, os magistrados observaram de perto uma possível escalada que poderia levar à prisão preventiva de Bolsonaro. Um dos ministros chegou a avaliar que o ex-presidente estaria “provocando” uma ação mais drástica ao aparecer no Congresso, ocasião que ganhou ampla repercussão nas redes sociais.
Aproximações e reações políticas
A maioria dos magistrados, no entanto, pareceu aliviada com os esclarecimentos fornecidos pela defesa do ex-presidente, deixando isso em um tom apaziguador. Após a aparição no Congresso, Bolsonaro passou a ter um discurso mais moderado, externando críticas a parlamentares e líderes bolsonaristas por meio de terceiros. Esse recuo foi visto como positivo, embora os magistrados continuem ressaltando que medidas mais severas podem ser necessárias se o ex-presidente descumprir novamente as restrições.
Interações com o governo dos EUA
Ministros do STF também acompanharam de perto a reação ao voto do ministro Luiz Fux, que, na última segunda-feira, foi o único a votar contra as medidas cautelares de Moraes. A postura de Fux era esperada e não provocou mal-estar entre os colegas ou com Moraes. Nos bastidores, Fux expressou preocupação com o crescente radicalismo no país e suas possíveis implicações econômicas.
Em meio a esse cenário, o governo dos EUA anunciou que revogará os vistos de Moraes e de outros magistrados do STF, medida considerada delicada, mas sem impacto na independência dos ministros. Alguns magistrados afirmaram que a troca de visões com o Itamaraty está em andamento, embora os detalhes sejam ainda obscuros.
A crise comercial entre Brasil e EUA
A aplicação das restrições a Bolsonaro ocorre em um contexto de intensificação da crise comercial e política entre o Brasil e os Estados Unidos. Com o desenrolar do processo relativo ao golpe de estado, Eduardo Bolsonaro começou a apoiar publicamente sanções americanas contra ministros do STF.
Na última semana, o ex-presidente Donald Trump enviou uma carta a Luiz Inácio Lula da Silva, atacando o Judiciário e defendendo Bolsonaro, ao mesmo tempo que anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. Eduardo Bolsonaro comemorou essa medida, alegando ter atuado como intermediário com o governo dos EUA.
Para Moraes, a implicação dessas tarifas pretende impactar as relações diplomáticas entre Brasil e EUA, potencializando uma crise econômica que geraria pressão sobre o Judiciário em relação ao processo relacionado ao golpe, cujo julgamento está previsto para ocorrer até setembro. Essa situação evidencia a complexidade das relações políticas e diplomáticas em cenários de conflito interno.
A decisão de Moraes serve não apenas como um aviso a Bolsonaro, mas também destaca a delicada intersecção entre política e judicial que o Brasil enfrenta atualmente.