No dia 24 de agosto de 2023, durante o interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, de 51 anos, negou qualquer participação da corporação em ações que visaram barrar ônibus que transportavam eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022. O depoimento de Vasques faz parte do inquérito que investiga uma suposta trama golpista envolvendo ex-integrantes do governo Jair Bolsonaro (PL).
Acusações e desmentidos
Vasques, ao ser questionado sobre reuniões que ocorreram no Ministério da Justiça acerca do planejamento eleitoral, afirmou que nunca foi discutido que a PRF teria um lado nesse pleito. “Jamais recebi ordem para bloquear ônibus de eleitores. Não fizemos isso e não vi ninguém fazendo. A apuração da PRF não encontrou registro de cidadãos que deixaram de votar por conta das operações realizadas”, declarou.
Essas declarações vêm à tona em um contexto em que a PRF é acusada de utilizar sua estrutura para interferir nas eleições presidenciais, especialmente no Nordeste, onde Lula obteve a maior parte de seus votos. Vasques não hesitou em afirmar: “A própria apuração da PRF fez isso, oficialmente, não se encontrou nenhum cidadão que deixou de votar nas ações da PRF”, alega.
Resultados de blitzes e segurança no trânsito
Sobre os registros de veículos parados por blitzes da PRF, Vasques argumentou que os ônibus parados estavam em situação irregular, colocando em risco a segurança no trânsito. “No dia 30 de outubro de 2022, foram 13 ônibus recolhidos, a maioria no Nordeste. Desses, a maioria estava com problema mecânico ou não podia circular”, explicou o ex-diretor da PRF.
Ele ainda enfatizou que durante as operações, os policiais não tinham como identificar a filiação política dos passageiros: “Não há como definir se o ônibus era de apoiadores de Lula ou Bolsonaro.” Esse ponto revela a complexidade da situação, onde acusações de parcialidade podem obscurecer a missão de garantir a segurança nas estradas.
Investigações e prisão
Vasques foi preso em agosto de 2023 por ordem do ministro Alexandre de Moraes, sendo investigado por tentar interferir nas eleições de 2022 em favor de Jair Bolsonaro. Sua prisão gerou repercussões políticas significativas, refletindo a tensão que permeou o período eleitoral. Após um ano preso no Complexo Penitenciário da Papuda, a preventiva de Vasques foi revogada devido a mudanças nas circunstâncias que justificariam a sua detenção, segundo as palavras de Moraes.
Os réus do núcleo 2 da trama golpista
Além de Vasques, outras figuras proeminentes estão sendo investigadas no mesmo caso. O núcleo 2 inclui:
- Fernando de Sousa Oliveira – ex-secretário-adjunto da Secretaria de Segurança Pública do DF;
- Filipe Garcia Martins Pereira – ex-assessor especial de assuntos internacionais da presidência;
- Marcelo Costa Câmara – coronel do Exército;
- Marília Ferreira de Alencar – delegada da Polícia Federal;
- Mario Fernandes – general da reserva do Exército.
Esses indivíduos são acusados de usar recursos públicos para dificultar o acesso de eleitores aos locais de votação, particularmente no Nordeste, onde Lula teve seu maior apoio político. O desenrolar desse caso poderá ter implicações profundas na política nacional brasileira e nos futuros processos eleitorais.
O ex-diretor da PRF também destacou que a atuação da corporação sempre teve como prioridade a segurança das estradas e a proteção dos cidadãos, independentemente de suas preferências políticas.
Considerações finais
O depoimento de Silvinei Vasques ao STF é apenas uma peça no complicado tabuleiro das investigações sobre as eleições de 2022 e o papel da PRF. A questão da imparcialidade no serviço público se revela crucial nesse cenário, e o desdobramento deste caso poderá não apenas afetar os acusados, mas também impactar a confiança da população nas instituições democráticas do Brasil.
As investigações continuam e novos desdobramentos são aguardados, pois a verdade sobre a interferência nas eleições se torna cada vez mais vital em um país em que a polarização política está em alta.