Uma empresa do setor madeireiro de Ipumirim, localizada no Oeste de Santa Catarina, comunicou férias coletivas a quase 500 funcionários em resposta à tarifa de 50% sobre importações brasileira anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, marcada para 1º de agosto. A decisão foi motivada pela suspensão dos contratos de exportação que ainda não haviam sido enviados aos portos, devido às medidas tarifárias.
Impacto das tarifas de Trump na indústria madeireira de SC
Devido à tarifa de 50% aplicada às exportações brasileiras, a empresa, que fabrica molduras de madeira para o mercado externo, principalmente para os Estados Unidos, reduziu suas operações. Atualmente, 95% de suas vendas externas são destinadas ao mercado norte-americano. Dos 500 funcionários do grupo, apenas um setor, com 15 colaboradores, continuará ativo. A companhia afirma que as medidas visam aguardar um entendimento entre os governos para que as atividades comerciais possam ser retomadas normalmente.
Segundo o comunicado oficial, “entendemos que é um momento delicado, mas acreditamos que, juntos, superamos qualquer desafio. Informações detalhadas sobre as datas serão comunicadas diretamente por seus líderes”.
Desafios regionais e cenário nacional
O impacto não se limita a Ipumirim. Indústrias do Norte de Santa Catarina, incluindo o polo madeireiro do Planalto Norte, que abrange cidades como São Bento do Sul, Rio Negrinho e Campo Alegre, também suspenderam suas operações devido à interrupção das compras por parte dos importadores americanos. Arnaldo Huebl, vice-presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) na região, revelou que empresas já estão parando ou planejam paralisações nos próximos dias. Mais da metade das 398 empresas do setor no Planalto Norte exporta para os EUA, empregando cerca de 7 mil trabalhadores e correndo risco de demissões caso as tarifas permaneçam.
Ameaça ao setor madeireiro brasileiro
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), a sobretaxa de 50% ameaça aproximadamente 180 mil empregos diretos em toda a cadeia produtiva do setor, que movimentou cerca de US$ 1,6 bilhão em exportações para os Estados Unidos em 2024. A entidade manifestou preocupação e advertiu sobre os efeitos devastadores dessa medida para a competitividade do mercado nacional.
Em nota, a Abimci destacou que o setor representa uma parcela significativa da economia brasileira, especialmente nos estados do Sul, onde 90% da produção está concentrada. A entidade também ressaltou a dependência de cerca de 50% da produção às vendas para os EUA, sendo segmentos específicos totalmente atrelados ao mercado norte-americano. “A insegurança causada pela tarifa já provoca cancelamentos de contratos e suspensão de embarques, além de levar empresas a adotarem férias coletivas obrigatórias”, alertou a associação.
Apelo por negociações e medidas emergenciais
A Abimci reforçou a necessidade de o governo brasileiro agir com urgência para evitar o colapso do setor, pleiteando negociações diplomáticas e uma possível prorrogação do prazo para implementação das tarifas. O setor também pediu que o governo não adote medidas de reciprocidade tarifária, que poderiam piorar ainda mais a crise. A entidade revelou que há aproximadamente 1.400 contêineres com produtos embarcados e outros 1.100 aguardando embarque nos portos, evidenciando a atual precariedade do setor.
Os representantes da indústria de Santa Catarina ressaltaram a importância de uma ação rápida do governo para preservar empregos e manter a atividade econômica do setor madeireiro, cuja evolução depende de negociações diplomáticas eficazes com os Estados Unidos.
Segundo especialistas, o momento exige uma resposta governamental contundente, priorizando a diplomacia para reverter a medida antes que os efeitos sejam irreversíveis à indústria e ao emprego no setor.