No contexto das investigações sobre o período conturbado do governo Jair Bolsonaro, o coronel da reserva Marcelo Câmara, que atuou como assessor especial do ex-presidente, prestou depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF) e abordou o monitoramento dos deslocamentos do ministro Alexandre de Moraes, afirmando que a prática tinha o objetivo de ajustar a agenda de Bolsonaro e estabelecer uma aproximação entre o presidente e o magistrado.
O depoimento e a defesa de Câmara
Durante seu interrogatório, Câmara, que se encontra sob prisão preventiva, admitiu que foi o responsável por coordenar um “núcleo de inteligência paralela” que acompanhava os passos de Moraes. No entanto, ele se defendeu dizendo que a intenção não era promover ações ilegais, mas apenas facilitar a interação entre Bolsonaro e Moraes. “Nosso objetivo ao receber essas solicitações do Cid era de ajustes de agenda e porque queríamos uma aproximação com o ministro”, declarou Câmara.
Câmara também expressou que tinha se sentido “usado” por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que pode ter utilizado as informações coletadas para outros fins. O coronel afirmou que confiava em Cid, mas começou a perceber que podia estar sendo manipulado para um propósito diferente do que acreditava inicialmente.
Conexões com possíveis planos golpistas
Um dos pontos mais polêmicos do depoimento foi a negação de Câmara em relação à sua participação em planos golpistas, incluindo o chamado “plano Punhal Verde e Amarelo”, que visava sequestrar e assassinar autoridades, entre elas o próprio Moraes e o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. “Eu não tinha conhecimento de qualquer minuta com teor golpista”, enfatizou Câmara, que, segundo ele, estava apenas buscando informações de agenda.
As mensagens recuperadas
Investigações da Polícia Federal recuperaram mensagens apagadas do celular de Mauro Cid, que evidenciam a troca de informações sobre as rotas de Moraes. Uma dessas mensagens detalhava os itinerários do ministro, inclusive durante a diplomação de Lula, no dia 12 de dezembro. Câmara mencionou especificamente a situação, afirmando que estava tão distante de monitorar Moraes que se preocupava em manter suas intenções corretas.
“Se alguém quiser falar que o que eu fiz foi monitoramento, acho que é um erro. Mas ainda assim não foi feito para cometer nenhuma ilegalidade”, defendeu-se Câmara durante seu depoimento ao STF, ressaltando que sua intenção era apenas ajudar na logística de agenda.
Dúvidas sobre a origem das informações
Durante o interrogatório, o coronel teve dificuldade em identificar quem lhe passava as informações sobre os movimentos de Moraes, alegando que “não existia a figura do informante”. Para ele, a aproximação entre cerimonial, segurança e agenda era comum em eventos e que, por isso, acabava adquirindo conhecimento das movimentações, sem que isso implicasse em um esquema de espionagem.
Perspectivas futuras
Com as investigações continuando a desdobrar-se, o caso de Marcelo Câmara revela as complexidades que cercam as relações entre agentes do governo e as instâncias do Judiciário. A discussão sobre monitorações, abordagens e possíveis ações golpistas permanece um tema sensível no cenário político brasileiro, levantando questões sobre a ética e a legalidade das ações de servidores públicos. À medida que o STF prossegue com as investigações, o foco agora também se volta para a autenticidade e a interpretação das evidências apresentadas.
O desenrolar deste caso será acompanhado de perto pela sociedade e pode refletir na percepção pública sobre a segurança das instituições democráticas brasileiras. O futuro de pessoas envolvidas e as consequências de suas ações permanecem incertos, mas a necessidade de transparência e responsabilidade é fundamental.