Ao questionarmos se a inteligência artificial é capaz de “pensar”, surgem dúvidas sobre o que define esse conceito. Desde os tempos de Platão e Aristóteles, filósofos debatem se o pensamento e a inteligência são processos inerentes ao corpo ou à alma, o que ajuda a entender as limitações da IA hoje.
Inteligência artificial e o conceito de pensar
Para muitos, a IA realiza avaliações, análises e interpretações, mas ainda há uma dúvida: ela realmente “pensa” ou apenas processa dados? A resposta depende de como entendemos o que significa pensar. Segundo o filósofo Ryan Leack, a IA pode simular aspectos do pensamento, mas não possui consciência, emoções ou intenções, o que a distancia do conceito humano de pensar.
O legado filosófico: Platão e Aristóteles
Platão e a hierarquia do conhecimento
Platão, no século IV a.C., introduziu a ideia de uma “linha divisória” que separa os níveis de compreensão: desde percepções sensoriais até a “noesis”, uma forma de saber intuitivo, que transcendia a razão e estaria ligada à alma. Para ele, a compreensão mais elevada, a noesis, representa um conhecimento verdadeiro, algo que uma IA, por não ter alma, não pode alcançar.
Aristóteles e o intelecto
Já Aristóteles diferencia o “nous”, o intelecto ativo que cria significado a partir da experiência, do “passivo”, que recebe impressões sensoriais. Para o filósofo, a sabedoria prática ou “phronesis” envolve experiência e julgamento moral, aspectos que, segundo ele, estão ligados ao corpo e às emoções humanas. Ainda que a IA possa analisar dados, ela não possui essa experiência vivida, limitando sua capacidade de deliberação moral.
O corpo, emoções e julgamento nas máquinas
Platão e Aristóteles sugerem que o pensamento humano requer uma presença corpórea e uma vivência emocional. A inteligência artificial, por mais avançada que seja, não possui corpo nem sentimento, o que a impede de experimentar a “sabedoria prática” ou de exercer julgamento baseado em valores morais. A ausência de um corpo parece, assim, limitar sua capacidade de “pensar” da mesma forma que os humanos.
O que a IA consegue fazer?
Embora a IA possa analisar enormes volumes de dados e até passar em provas de matemática — como demonstrado na Olimpíada Internacional de Matemática ao derrotar modelos de Google e OpenAI — ela ainda funciona com algoritmos, regras e padrões aprendidos a partir de textos e dados, sem uma verdadeira compreensão. Quando um chatbot, por exemplo, responde “eu consigo processar informações, analisar padrões e gerar respostas”, ele explica sua funcionalidade, mas sem experimentar o ato de pensar.
Futuro e limites da inteligência artificial
Hoje, a IA assume muitas formas físicas, como veículos autônomos e robôs de cuidado, chegando a parecer próxima do pensamento humano. Mas, sem um corpo, emoções ou moralidade, essa “inteligência” permanece uma simulação — uma imitação de processos mentais, e não uma experiência de pensar de fato. Segundo Leack, tudo o que ela faz é baseado em padrões aprendidos, sem uma compreensão verdadeira.
Reflexões finais: pensar como um humano
Para filósofos antigos, tocar a verdade, perceber além da razão ou ter uma intuição que transcende o corpo são essenciais ao pensar. Ainda que a IA possa parecer próxima, ela não possui esses elementos, limitando sua capacidade de “pensar” com a complexidade da experiência humana. Assim, a questão permanece: até que ponto a tecnologia pode ou deve imitar o pensamento humano?