Um grupo de três senadores dos Estados Unidos está levando suas preocupações sobre a segurança de dados a um novo patamar ao demandar esclarecimentos da Delta Air Lines sobre seu plano de expandir o uso de inteligência artificial (IA) para definir tarifas de passagens aéreas individualizadas. Os senadores Ruben Gallego, Richard Blumenthal e Mark Warner, todos integrantes do Partido Democrata, enviaram uma carta à companhia aérea, com sede em Atlanta, pedindo detalhes sobre a implementação de uma tecnologia de gestão de receitas com base em IA, a qual será aplicada em 20% da rede doméstica da Delta nos próximos meses.
A prática de preços individualizados e suas implicações
No documento, os senadores descreveram a prática de preços individualizados como uma forma de “definição de preços baseada em vigilância”, que substitui o preço fixo por tarifas ajustadas de acordo com a disposição de cada consumidor em pagar. Eles expressaram preocupações significativas quanto à privacidade dos dados, alertando que as novas práticas poderiam elevar os preços exorbitantemente, atingindo o “ponto de dor” individual de cada consumidor em um momento em que muitas famílias americanas enfrentam dificuldades financeiras devido ao aumento do custo de vida.
Durante uma coletiva de imprensa em 10 de julho, Glen William Hauenstein, presidente da Delta Air Lines, indicou que atualmente cerca de 3% dos preços das passagens da companhia já são definidos por meio de tecnologia de IA, com a expectativa de elevar esse número para 20% até o final de 2025. Hauenstein afirmou que a Delta está em uma fase de intenso teste e que a companhia está confiante nos resultados prévios, mas que a implementação do novo sistema será cuidadosa para evitar problemas indesejados.
A importância da transparência na coleta de dados
Os senadores Gallego e seus colegas destacaram que a utilização da IA para definir preços pode requerer informações pessoais extensivas, obtidas via diversos canais de terceiros. Destacam a coleta de dados como histórico de compras, comportamento de navegação, geolocalização, atividade em redes sociais, dados biométricos e informações financeiras. Para os senadores, isso levanta dúvidas sérias sobre a privacidade dos consumidores e quais dados específicos serão coletados pela Delta e pela Fetcherr, empresa israelense parceira da companhia que atua na área de tecnologia de IA.
“Os preços poderiam ser estabelecidos não pela oferta e demanda, mas pela necessidade individual”, alertaram os senadores na carta. “Enquanto a Delta afirmou que a companhia manterá salvaguardas rigorosas para garantir a conformidade com a lei federal, a empresa não compartilhou qual é essa proteção ou como planeja proteger as famílias americanas contra discriminação nos preços no cenário em evolução da IA.”
Pedido de resposta e a posição da Delta
Na carta, os senadores definiram um prazo até 4 de agosto para que a Delta forneça informações sobre os dados utilizados para treinar o algoritmo de sua nova estrutura de preços, além de quantos passageiros diariamente estão adquirindo passagens baseadas nesse modelo personalizado.
Em resposta à crescente pressão, Chelsea Wollerson, porta-voz da Delta, informou que a companhia não tinha uma resposta imediata à carta. Contudo, ela ressalta que “não há produto de tarifa que a Delta tenha usado, esteja testando ou planeje usar que tenha como alvo clientes com ofertas individualizadas baseadas em informações pessoais”. A Delta reiterou que uma variedade de forças de mercado orienta seu modelo de precificação dinâmica, que tem sido utilizado na indústria global há décadas, e garante que sempre cumpre as regulações vigentes sobre preços e divulgações.
Com essa discussão em andamento, é claro que a interseção entre tecnologias emergentes e privacidade dos consumidores se tornará um tópico cada vez mais relevante, e a Delta Air Lines está na vanguarda desta questão delicada.