Brasil, 23 de julho de 2025
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O humor da internet com “confissões” e a busca por culpados

Recentemente, casos como o do ex-BuzzFeeder Ned Fulmer, acusado de traição, e o CEO da Astronomer, Andy Byron, suspeito de envolver-se em um suposto affair, reacenderam debates sobre julgamento público e privacidade no ambiente de trabalho. Mas será que estamos compreendendo toda a dimensão dessas questões?

Judiciário popular e julgamento nas redes

O episódio de Ned Fulmer, dispensado do grupo Try Guys após revelações de traição, exemplifica como a opinião pública reage rapidamente às “transgressões” conhecidas, muitas vezes sem uma investigação formal. A mesma lógica viral se aplicou ao caso de Byron, cuja saída da Astronomer foi anunciada após vídeos na TikTok levantarem suspeitas de um relacionamento extraconjugal.

Embora as empresas ainda não tenham confirmado oficialmente a identidade de Byron ou envolvimento com o vídeo, a pressão social levou a uma saída voluntária, prática comum na cultura das redes sociais que valoriza punições rápidas e muitas vezes superficiais.

O impacto do julgamento público na carreira

O advogado Eric Kingsley, especialista em direito trabalhista, explica que a vida privada geralmente não é motivo para demissão, a menos que interfira no ambiente de trabalho ou afete a reputação da organização. No entanto, quando má conduta envolve outros funcionários ou gera clima de hostilidade, a saída passa a ser mais justificável.

“Um relacionamento de CEO com uma funcionária, especialmente se houver uma relação de poder, pode gerar favoritismo, coerção ou até ações legais por assédio”, ressalta Kingsley. Portanto, o que muitas vezes parece uma questão moral se revela uma complexidade de dinâmicas de poder que merecem análise maior.

Quando o comportamento íntimo vira problema no ambiente corporativo

Segundo Thomas Roulet, especialista em psicologia e comportamento organizacional, a distinção entre vida pessoal e profissional é importante.

“Se a relação afeta o desempenho ou o engajamento, sim, há motivos para intervenção. Mas não se trata de julgar moralmente, e sim de entender se há impacto na produtividade ou na harmonia do time”, afirma.

Ressalta ainda que a cultura de julgamento nas redes muitas vezes ignora essa lógica, focando em expor e condenar com base em suposições e sem provas concretas, prejudicando até mesmo pessoas inocentes, como no caso da diretora de RH da Astronomer.

Poder, moralismo e as armadilhas do tribunal online

O especialista em ética digital, Jon Ronson, em seu livro “You’ve Been Publicly Shamed”, alerta para a perigosidade do julgamento instantâneo e do “dogpiling” — quando vários internautas partem para ataques coordenados, muitas vezes de forma injusta.

Explica que essa cultura de punição rápida pode excluir a necessidade de investigação formal, promovendo uma espécie de “justiça” que, muitas vezes, é mais punitiva do que justa. O verdadeiro problema é a lógica de poder que se constrói na mobilização de massas, que transforma acusações sem provas em condenações públicas.

Reflexões finais e limites do julgamento social

O risco de confundir investigação com caçada moral é alto. Como destaca Kingsley, a busca por culpados deve passar por processos legais e éticos, e não pelo impulso de punições instantâneas nas redes sociais. A cultura de responsabilização exige maior maturidade e respeito às complexidades humanas e organizacionais.

Precisamos refletir: até que ponto a moralidade virtual deve influenciar a vida profissional? E quem realmente paga o preço quando julgamos com base no que vemos na tela?

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