Na véspera da cúpula de chefes de Estado do Mercosul em dezembro, a presidência brasileira do bloco pretende anunciar a assinatura do acordo de livre comércio com a União Europeia. No entanto, o processo dentro da UE enfrenta atrasos e incertezas, devido às tensões comerciais e internas que envolvem países como França e Polônia, além do impacto das negociações entre a Europa e os Estados Unidos.
Imbróglio na assinatura do acordo UE-Mercosul
Embora o governo brasileiro projete a assinatura na cúpula, fontes diplomáticas confirmam que a Comissão Europeia ainda não enviou oficialmente o documento ao Conselho Europeu. Uma das principais dificuldades é o impasse sobre tarifas e a resistência de países com forte lobby agrícola, principalmente a França, que busca reabrir negociações já revisadas e adiar o entendimento.
Resistências internas na UE
Até o momento, a Comissão Europeia não enviou o texto ao Conselho devido às divergências, que incluem a preocupação de países como França e Polônia em relação ao impacto do acordo sobre a agricultura europeia. A França, liderada pelo presidente Emmanuel Macron, exige que o acordo seja aprovado por pelo menos 35% da população da UE para evitar uma minoria de bloqueio — situação que ainda não se concretizou.
Fatores que podem destravar o processo
Um fator chave para avançar nas negociações é a relação entre a UE e os Estados Unidos. A guerra tarifária impulsionada por Donald Trump, que adotou uma “metralhadora tarifária” contra países considerados taxados pelos EUA, pode, por sua vez, incentivar a Europa a ampliar seus mercados, incluindo o Mercosul. Caso a UE perca espaço para os EUA, há maior incentivo político para aprovar o acordo com o bloco sul-americano, segundo especialistas.
Impacto das negociações entre UE e EUA
Dependendo do sucesso ou fracasso nas negociações comerciais com Trump, a estratégia europeia pode mudar. Se a UE sofrer prejuízos frente aos EUA, o incentivo para acelerar o acordo com o Mercosul aumenta, ajudando a superar resistências internas. Contudo, as incertezas ainda dominam o cenário, dificultando a assinatura definitiva.
Perspectivas futuras e obstáculos
Espera-se que a Comissão Europeia envie o documento ao Conselho até o final de julho, mas sem garantias de sucesso. Após a chegada ao Conselho, haverá duas possibilidades: a aprovação por consenso, que exige o apoio de todos os países, ou uma votação majoritária. Para bloquear o acordo, a França precisaria formar uma minoria de bloqueio contando com apoio de outros países, como Polônia e Países Baixos.
Além disso, há informações de que a França estaria pressionando por uma reabertura do acordo, algo já descartado pelo Mercosul, que renegociou capítulos ambientais e de propriedade intelectual. Alguns analistas afirmam que Macron estaria negociando em Bruxelas o apoio ao orçamento da UE em troca da não avanços no entendimento com o Mercosul, uma estratégia que pode fortalecer ou atrasar o processo.
Contexto geopolítico e influência de Trump
O cenário global, marcado pelas ações do governo de Donald Trump, que anunciou recentemente um acordo comercial com o Japão — considerado o maior já feito, segundo fontes —, influencia decisivamente a dinâmica das negociações. A guerra tarifária gerou uma aproximação da UE com outros parceiros na América Latina e na Ásia, o que pode aumentar a pressão pela assinatura do acordo com o Mercosul.
Especialistas destacam que o ambiente de disputas comerciais internas e externas reforça a percepção de que o pacto entre UE e Mercosul depende de fatores políticos e econômicos que vão além das negociações diretas. Enquanto isso, manifestações continuam acontecendo na Europa, alertando contra o impacto do protecionismo agrícola e questionando os efeitos do acordo.
Incertezas e próximos passos
Com a incerteza sobre a assinatura, análises indicam que o entendimento pode ficar condicionado ao resultado das negociações com os EUA, bem como às estratégias internas de cada país na UE. O prazo para o envio do acordo ao Conselho, que poderia sinalizar o avanço, ainda não é garantido, e a possibilidade de reaberturas ou atrasos permanece no horizonte próximo.
Enquanto isso, a discussão sobre a possibilidade de compensações financeiras à França, em troca do apoio ao orçamento europeu, segue sendo uma peça-chave no jogo político. O futuro do acordo entre Mercosul e UE depende, assim, de um delicado equilíbrio de interesses internos e externos, em meio a um cenário de tensões globais.