Na última segunda-feira, a análise das blitze da Polícia Rodoviária Federal (PRF) durante o segundo turno das eleições de 2022 ganhou destaque no Supremo Tribunal Federal (STF), onde uma testemunha arrolada pela defesa do ex-diretor-geral, Silvinei Vasques, apresentou informações que apontam a existência de “materialidade” sobre um possível policiamento ilegal. Alexandre dos Santos Lopes, agente da PRF, fez questão de esclarecer sua posição: apesar de identificar a irregularidade, ele não atribuiu ordens diretas a Vasques.
Irregularidades nas blitze da PRF
Na sua declaração, Santos Lopes enfatizou que a investigação realizada pela PRF encontrou inconsistências nos números operacionais relacionados a blitze em diversos estados, como Pará, Maranhão, Santa Catarina, Sergipe e outros do Nordeste. Entretanto, ele destacou que, embora houvesse “uma trilha de materialidade”, não havia elementos suficientes para concluir se as ações eram ordenadas por algum superior, incluindo Vasques. “Não havia elementos para apontar autoria com segurança”, declarou, ressaltando que sua participação no caso foi encerrada após a Controladoria-Geral da União assumir a investigação.
A denúncia da procuradoria e o contexto
A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) sugere que houve uma coordenação entre a liderança do Ministério da Justiça e Segurança Pública e a PRF com o objetivo de dificultar o voto em locais favoráveis ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, especialmente no Nordeste. A PGR argumenta que em uma reunião no dia 19 de outubro de 2022, a cúpula das duas instituições discutiu um policiamento direcionado para o segundo turno das eleições.
De acordo com os relatos, durante a reunião, Vasques teria mencionado que “era hora de escolher um lado”, o que intensificou as suspeitas sobre a imparcialidade da PRF durante as eleições. Dezenas de depoimentos foram colhidos para tentar esclarecer essas ações, e, até o momento, a defesa de Vasques tem se concentrado em refutar essas alegações.
Testemunhas defendem ex-diretor da PRF
Além de Santos Lopes, outras 11 testemunhas, todas arroladas pela defesa, foram ouvidas na manhã da segunda-feira. Entre elas, agentes da PRF que ocuparam posições de liderança durante a gestão de Vasques. Essas testemunhas, em sua maioria, negaram qualquer direcionamento no policiamento durante as eleições. Com isso, uma parte importante do debate gira em torno da veracidade das acusações da PGR e da defesa de Vasques.
Depoimentos contraditórios
Alguns depoimentos específicos chamaram a atenção. Anderson da Silva Costa, ex-chefe de operações da PRF no Rio Grande do Norte, e outros ex-superintendentes da PRF, como Antônio Vital de Moraes Júnior e Diego Joaquim de Moura Patriota, reforçaram a ideia de que não houve solicitação clara para direcionar as ações da PRF. “Vídeos que circulam alegando direcionamentos sobre blitz policial não procedem”, explicou Patriota, enfatizando a rapidez na abordagem de veículos durante as operações.
A participação de outros envolvidos
No mesmo dia, o STF também ouviu o depoimento do diplomata André Chermont, que atuou como chefe do cerimonial da presidência em 2022. Chermont confirmou que Filipe Martins não estava na lista de passageiros que acompanhou o ex-presidente Jair Bolsonaro em uma viagem aos Estados Unidos. Esta informação é relevante, uma vez que Martins havia sido preso sob suspeita de ter fugido para os EUA e sua defesa sempre negou a alegação.
Martins apresentou dados de geolocalização que mostram seus movimentos em locais como Paraná e Brasília durante o final de 2022, o que contraria as acusações e gera mais incerteza sobre a narrativa da PGR acerca de seu envolvimento.
Concluindo as investigações
Os próximos passos do STF e a continuidade das investigações prometem mexer com o cenário político no Brasil. Enquanto as testemunhas testemunham a favor de Vasques, a Procuradoria-Geral da República continuará a investigar os supostos direcionamentos da PRF e sua postura durante um dos momentos mais polarizados da política brasileira.
Ainda é cedo para determinar as consequências destas audiências, mas a apreensão sobre o resultado da investigação pelo STF permanece alta. Como a situação se desdobrará nas próximas semanas e quais decisões resultarão disso são questões que tanto analistas quanto cidadãos aguardam com interesse.
Com um cenário em constante evolução, este caso continua a captar a atenção e a preocupação da sociedade sobre a integridade e a imparcialidade das instituições públicas, especialmente em períodos eleitorais.