Após décadas de declínio, o setor naval brasileiro inicia uma fase de renovação impulsionada por investimentos em novos contratos, tecnologia e requalificação de profissionais. A crise desencadeada pela Operação Lava Jato e o recuo nos investimentos da Petrobras reduziram drasticamente a atividade, que chegou a empregar cerca de 120 mil pessoas no auge, mas hoje conta com apenas 30 mil trabalhadores.
Desafios e estratégias para a recuperação do setor naval brasileiro
O principal obstáculo enfrentado atualmente é a necessidade de reativar a mão de obra especializada, que foi completamente desmantelada nos últimos dez anos. Segundo Alexandre Kloh, vice-presidente do Estaleiro Mac Laren, recuperar essa expertise é prioridade. “Perdemos toda aquela expertise, o pessoal técnico qualificado”, destacou Kloh em entrevista ao GLOBO.
Investimentos para a inovação e retomada
O estaleiro Mac Laren, com 87 anos de história, anunciou um investidor de R$ 250 milhões para construir um novo dique flutuante na unidade de Niterói. A modernização inclui também um contrato de aproximadamente R$ 270 milhões com a Transpetro, subsidiária da Petrobras, para construir quatro navios petroleiros, marcando o início de uma nova fase de renovação da frota nacional.
Esse projeto de modernização da frota é considerado um marco na recuperação do setor, que há mais de uma década enfrentava baixa na atividade. Segundo Kloh, o Brasil possui uma oportunidade única de crescimento, especialmente nas áreas de exploração de petróleo offshore e em águas profundas, como na Bacia de Sergipe e na Margem Equatorial.
O papel do governo e desafios fiscais
Um dos grandes desafios para a retomada do setor é criar uma política de governo que torne a construção naval mais competitiva. Kloh cita a alta carga tributária, como o ICMS, e a necessidade de desoneração da cadeia produtiva, especialmente no que diz respeito ao aço e ao conteúdo nacional. “Por que não temos uma política isentando a cadeia da indústria naval do ICMS?”, questiona.
Apesar das dificuldades fiscais, o governo tem buscado parcerias para estimular a indústria naval, incluindo conversas com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e com a Secretaria da Fazenda do Estado do Rio de Janeiro, que enfrenta seu próprio processo de recuperação fiscal.
Requalificação e salários atrativos
Ao longo dos anos, a desindustrialização afetou profundamente a qualificação do quadro de trabalhadores do setor. Hoje, um soldador pode receber entre R$ 4.500 e R$ 8.000, o que torna as funções técnicas bastante atrativas. Kloh reforça a importância de programas de treinamento e parcerias com o Sistema S para requalificar os profissionais e criar uma nova geração de especialistas.
“Precisamos de muito treinamento técnico e de programas de formação em parceria com o governo”, ressaltou Kloh.
Perspectivas de futuro e oportunidades de crescimento
O retorno ao crescimento está relacionado aos contratos de grande porte previstos para os próximos anos, especialmente na área de exploração de petróleo offshore, com mais de 53 embarcações planejadas pela Petrobras. A inauguração de um novo dique modular em Niterói, que deve gerar 1.500 empregos diretos durante a obra e 3.000 na operação, é considerado um passo fundamental para a consolidação dessa nova fase.
Segundo Alexandre Kloh, o setor possui potencial de crescimento extraordinário, com oportunidades relacionadas à exploração de águas profundas na Bacia de Pelotas e na Bacia de São Paulo. “O Brasil tem uma oportunidade absurda de gerar renda e negócios com o setor naval”, concluiu.
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