Deputados da oposição retomaram nesta segunda-feira a articulação em torno de dois projetos que alteram o regimento da Câmara e podem abrir caminho para a manutenção do mandato de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), mesmo com sua permanência no exterior. As propostas, apresentadas há menos de um mês, voltaram ao centro das discussões após o fim da licença de 120 dias do deputado, que venceu neste domingo. Pelas regras atuais, ele não pode continuar afastado sem risco de perder o mandato.
Propostas de mudança no regimento
Os textos propõem duas mudanças principais: a ampliação do tempo de licença para até 240 dias por ano e a criação da figura do “deputado remoto”, com permissão para atuar fora do país. O projeto sobre exercício remoto, apresentado por Evair de Melo (PP-ES), prevê que, em situações excepcionais, parlamentares possam manter suas prerrogativas mesmo sem presença física no plenário.
A zero da equidade nas ações
Já a proposta do líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), apresentada no início do mês, busca dobrar o tempo de afastamento por interesse particular, hoje limitado a 120 dias. Segundo o deputado, o objetivo é garantir “equidade” em relação aos servidores públicos federais, que podem tirar licenças de até três anos. Ambas as iniciativas aguardam despacho do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), e passaram a circular com mais força nos bastidores nesta segunda.
Alternativa para permanência no exterior
Paralelamente às mudanças no regimento, aliados de Eduardo também negociam sua indicação para uma secretaria estadual, o que abriria outra via para sua permanência fora do país com licença oficialmente autorizada pela Câmara. Os nomes mais citados são os dos governadores Jorginho Mello (PL), em Santa Catarina, e Tarcísio de Freitas (Republicanos), em São Paulo. A ideia é nomeá-lo para um cargo no Executivo estadual, permitindo um afastamento prolongado sem perda de mandato.
Resistências à ideia
A alternativa, no entanto, encontra resistências. Interlocutores de governadores como Ronaldo Caiado (União Brasil), em Goiás, e Romeu Zema (Novo), em Minas Gerais, demonstraram desconforto com a possibilidade de nomear um secretário que reside fora do país. Mesmo em redutos mais simpáticos ao bolsonarismo, como Santa Catarina, a repercussão negativa de pagar um salário público a alguém que vive no exterior pesa na avaliação.
A influência da família Bolsonaro nas alianças políticas
Por outro lado, com a aproximação das eleições de 2026, o apoio da família Bolsonaro segue sendo um trunfo, o que pode tornar o arranjo mais atrativo para aliados. A possibilidade de Eduardo ocupar um cargo e, com isso, manter sua influência no cenário político brasileiro é vista como uma estratégia para não apenas salvaguardar seu mandato, mas também fortalecer o apoio ao seu grupo político.
Contudo, as discussões continuam a gerar polêmica e divisão de opiniões no Congresso. Enquanto a oposição busca viabilizar a permanência de Eduardo, críticas sobre a legitimidade e ética da medida não param de surgir nos corredores da Câmara. A situação ilustra a complexidade política atual do Brasil, onde as articulações são constantes e o fator eleitoral pesa fortemente nas decisões dos parlamentares.
Acompanhar os desdobramentos dessas propostas é fundamental para entender o futuro político de Eduardo Bolsonaro e suas implicações para a dinâmica da política nacional. As articulações da oposição, mesmo que controvertidas, revelam a persistência em manter figuras influentes nas fileiras do poder, independentemente das circunstâncias.