Há imagens que, mais do que retratos, são radiografias do fracasso de um projeto de poder. A ida do prefeito de Fartura do Piauí, Orlando Costa (PT), ao gabinete do governador da Bahia para pedir socorro hídrico não é apenas uma agenda institucional. É, sobretudo, um ato de rendição — a confissão pública de que o Governo do Piauí, comandado pelo correligionário Rafael Fonteles, falhou naquilo que deveria ser o mínimo: garantir água ao seu povo.
Não estamos falando de um município recém-nascido ou de uma região isolada no mapa. Fartura é símbolo de uma promessa que nunca se cumpriu, de uma fartura que nunca chegou. E quando um prefeito petista, eleito na base do discurso da eficiência, precisa cruzar fronteiras em busca do básico, algo muito grave está acontecendo nos bastidores da gestão estadual.
Orlando Costa foi pedir água. Água. Não foi pedir uma fábrica, nem um polo de inovação. Pediu o essencial para manter um povo vivo. Enquanto isso, Rafael Fonteles, que se autoproclama inovador, segue em ritmo frenético de viagens internacionais, vendendo ao mundo a imagem de um estado que não existe — ou, no mínimo, que não chega a Fartura, São Raimundo Nonato, Curimatá, Redenção, ou a qualquer outra cidade fora do circuito publicitário da Secom.
É irônico — e trágico — que um gestor com formação matemática não consiga resolver o cálculo mais elementar da política: a soma entre necessidade básica e responsabilidade pública. Rafael quer impressionar CEOs europeus, mas não consegue garantir água potável a cidades governadas por aliados. Quer debater inteligência artificial com investidores estrangeiros, mas é incapaz de resolver uma questão hídrica secular dentro do próprio quintal.
O drama de Orlando Costa é, portanto, duplo: é o drama da falta de água, mas também o drama de quem se viu abandonado por seus próprios aliados. E que, numa tentativa desesperada, viu mais viabilidade em dialogar com outro estado do que continuar esperando de braços cruzados pela “Fartura” prometida em palanque.
Esse episódio precisa ser entendido como um alerta — não apenas para o governador, mas para toda a elite política do Piauí. A política feita de marketing, slogans e viagens glamorosas tem um limite: a seca. E a seca não se resolve com postagens em redes sociais ou discursos em cúpulas internacionais.
O povo de Fartura não precisa de um prefeito de Instagram. Precisa de água. E o Piauí não precisa de um governador celebridade. Precisa de um gestor que fique no estado, conheça os problemas de perto e, mais do que tudo, os resolva.
Rafael Fonteles pode até continuar rodando o mundo. Mas que não se espante se, na volta, encontrar prefeitos como Orlando Costa batendo às portas da Bahia, do Maranhão ou do Ceará. Porque, neste momento, parece mais fácil buscar dignidade fora do Piauí do que dentro dele. E isso, governador, é uma vergonha que nem a melhor assessoria de imprensa é capaz de esconder.