A morte de Preta Gil, neste domingo (20), abalou o Brasil de forma profunda. Muito além da perda de uma artista, o país se despediu de um símbolo de força, liberdade e autenticidade. A repercussão nas redes sociais provocou um verdadeiro luto coletivo, levando muitos a se questionarem sobre a profundidade desse sentimento, mesmo entre aqueles que nunca estiveram pessoalmente com a cantora.
A conexão emocional com figuras públicas
Para a psicóloga Anastácia Barbosa, a resposta para essa conexão emocional está no espelho que figuras públicas como Preta oferecem ao público. “Ela não era só uma artista. Ela era um símbolo. Símbolo de liberdade, coragem, feminilidade sem censura. Ao perdê-la, perdemos também um pouco da força que ela representava para tantas mulheres”, complementa a especialista.
Preta Gil não enfrentou apenas os palcos; sua vida pública foi marcada por desafios e vulnerabilidades, incluindo uma luta corajosa contra o câncer. A cantora expôs suas dores e vivências, criando laços significativos com o público, mesmo sem a convivência direta. “Criamos vínculos emocionais e simbólicos com figuras públicas. Preta nos acompanhava há anos, em suas dores, lutas, transformações. Nos identificamos com sua força e com sua vulnerabilidade – e isso é profundamente humano”, diz Anastácia.
O papel do luto coletivo na sociedade
A sensação de perda que permeia o Brasil tem um papel poderoso, segundo a psicóloga: rompe o isolamento emocional e cria pontes. “A dor compartilhada humaniza, aproxima, toca. E no caso da Preta, essa dor tem um nome, um rosto, uma história que nos lembra o quanto a vida precisa ser celebrada — mesmo nas perdas”, afirma Anastácia.
Ademais, a morte de Preta Gil traz à tona uma reflexão sobre a urgência da vida. A artista sempre se destacou por viver intensamente, sem adiar afeto ou esconder sua verdadeira identidade. “Ela nos mostra que não dá para esperar para se cuidar, para ser quem se é, para amar. A morte dela nos convoca a viver com mais presença”, completa Anastácia.

Preta Gil
Como seguir adiante após uma perda mobilizadora?
Outra questão que surge após a morte de uma pessoa tão querida é: como seguir em frente? Para Anastácia, isso não se trata de esquecer, mas sim de transformar a dor em uma força motriz. “O luto precisa de tempo, de espaço simbólico e de elaboração. Preta deixa um legado — e o melhor que podemos fazer é viver com mais coragem, mais afeto, mais presença. Como ela fez”, conclui a psicóloga.
O legado de Preta Gil
Filha do ícone da música brasileira, Gilberto Gil, e de Sandra Gadelha, Preta enfrentava o câncer desde o início de 2023. Após anunciar o fim do tratamento em dezembro do mesmo ano, a doença voltou com metástases. Ela buscou alternativas no exterior, onde passou por um protocolo experimental, mas não conseguiu resistir às complicações.
Nascida Preta Maria Gadelha Gil Moreira em 8 de agosto de 1974, no Rio de Janeiro, sua trajetória esteve sempre cercada por grandes nomes da música e da arte brasileira, como Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia, que considerava como parte de sua família.
A trajetória de Preta Gil é um lembrete poderoso de que a vida deve ser celebrada e vivida intensamente. Sua morte não é apenas uma perda, mas um convite à reflexão sobre como vivemos nossas próprias vidas e os laços que formamos ao longo do caminho.