Na década de 1970, Gilberto Gil enfrentou impedimentos no cartório ao tentar registrar sua filha com o nome “Preta”, uma decisão que refletia não apenas um ato de amor paterno, mas um manifesto à identidade e à valorização da negritude. O episódio, que ocorreu em 1974 no Rio de Janeiro, ilustra questões sociais e raciais que ainda reverberam na sociedade contemporânea.
O escrivão da época alegou que “Preta não era nome de gente”, desconsiderando a história e o significado que esse nome carrega. A funcionária responsável pelo atendimento, também surpreendida com a escolha, questionou a validade do nome, forçando Gilberto Gil a argumentar. Ele citou nomes tradicionais como Clara, Rosa e Bianca, que possuem relação com cores e eram aceitos sem restrições. Para ele, se nomes associados à cor branca eram facilmente registrados, não havia razão para rejeitar “Preta”.
Diante da negativa, o cartório exigiu que o nome fosse complementado por um prenome católico. A solução encontrada foi adicionar “Maria”, sugerida pela avó materna de Preta, o que possibilitou o registro oficial como “Preta Maria Gadelha Gil Moreira”. Esse episódio não só marca a história da criança que viria a se tornar uma artista renomada, mas representa também a luta contra o racismo institucional que persiste ao longo dos anos.
O orgulho de Preta Gil
Preta Gil sempre expressou orgulho de seu nome e da história que o acompanham. Apesar de enfrentar preconceitos na infância, ela adotou “Preta” como um símbolo de identidade e resistência. A artista e ativista, que sempre defendeu a valorização da negritude em sua música e em sua luta diária, considera o ato de seu pai uma demonstração clara de que a diversidade deve ser celebrada e respeitada.
Além de seu legado cultural, Preta se destacou por seu ativismo em defesa da comunidade LGBTQIAPN+. A sua luta não era apenas pessoal, mas uma mensagem de inclusão e aceitação, que ela fez questão de disseminar em sua carreira. Em entrevistas e redes sociais, frequentemente abordava questões relacionadas à identidade, à sexualidade e à necessidade de um espaço seguro para todos os indivíduos, independentemente de sua origem ou orientação sexual.
A perda de uma ícone

Morre a cantora Preta Gil
Recentemente, a música e a cultura brasileira sofreram uma grande perda com a morte de Preta Gil, aos 50 anos, após uma longa batalha contra um câncer no intestino. Sua partida deixou um vazio enorme no cenário musical, mas seu legado de luta e alegria permanece forte. Preta deixa não apenas músicas marcantes, mas também uma mensagem de resistência e amor próprio que continuará a inspirar futuras gerações.
A filha de Gilberto Gil será lembrada como uma voz vibrante em defesa da diversidade e dos direitos das minorias. Seu impacto na cultura brasileira transcende a música; ela representa uma mudança de paradigma em um país ainda marcado por desigualdades e preconceitos. As contribuições de Preta Gil para o reconhecimento da diversidade e da aceitação são um legado que deve ser celebrado e mantido vivo.