Na última segunda-feira, o delegado da Polícia Federal, Fabio Shor, prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) em um caso envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro. A audiência, que teve duração de duas horas, faz parte da investigação sobre uma suposta trama golpista que ganhou destaque no final de 2022. Durante seu testemunho, Shor comentou sobre a participação de Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro, em reuniões onde se discutiu uma minuta para a implementação de um golpe.
O depoimento e as acusações
No depoimento, o delegado reiterou as informações do relatório da Polícia Federal a respeito do envolvimento de Martins nas reuniões criminais. Foram discutidas estratégias de ocultação de sua localização, com Shor afirmando que Martins utilizou uma “artimanha” para dificultar seu rastreamento pelas autoridades. “A ERB dele ficou presa, enquanto ele se deslocava”, afirmou Shor.
Os advogados de Martins, Jeffrey Chiquini e Ricardo Scheiffer, questionaram por que os dados das Estações Rádio-Base (ERBs) não foram melhor explorados no relatório. O delegado explicou que, embora as ERBs apontassem que Martins estava em sua residência, foram obtidos dados de aplicativos de transporte que mostraram seus deslocamentos por Brasília, incluindo visitas ao Palácio da Alvorada.
A evidência obtida
Shor informou que a investigação utilizou dados do aplicativo Uber, fornecidos tanto pela defesa quanto pelo aplicativo. Além disso, a Polícia Federal acessou informações de entrada e saída do Alvorada, oriundas do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Esses registros confirmam a presença de Martins em pelo menos duas reuniões relevantes no Alvorada — uma no dia 19 de novembro de 2022, onde se discutiam ajustes na minuta do golpe, e outra no dia 7 de dezembro, onde Bolsonaro apresentou trechos da mesma minuta aos comandantes das Forças Armadas.
A participação de Martins nas discussões sobre uma minuta que poderia levar ao Estado de Defesa é um ponto central do inquérito, que busca esclarecer a intenção e a articulação de figuras próximas a Bolsonaro em um possível ato antidemocrático.
Controvérsias sobre a viagem aos Estados Unidos
Durante a audiência, os advogados de Martins tentaram esclarecer o motivo pelo qual ele foi acusado de tentar fugir para os Estados Unidos na comitiva de Bolsonaro, em dezembro de 2022. Segundo os defensores, Martins não embarcou com a comitiva, mas ficou preso preventivamente devido ao suposto risco de fuga.
O delegado Shor mencionou que o “contexto de elementos” evidencia que Martins forjou sua entrada nos Estados Unidos. Segundo Shor, Martins havia alegado que perdeu um passaporte em 2020, mas esse mesmo documento foi utilizado para registrar sua entrada nos EUA, na mesma data e cidade em que a comitiva presidencial estava.
Além disso, Martins registrou sua hospedagem no mesmo local que os outros membros da comitiva de Bolsonaro. Esses detalhes levam a crer que a versão apresentada por Martins carece de credibilidade e levanta questões sobre possíveis intenções de evasão.
A reação e os ataques
A atuação de Fabio Shor tem gerado controvérsias, especialmente entre os apoiadores de Bolsonaro. O delegado foi alvo de críticas e ataques, e o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro chegou a referir-se a ele como “cachorrinho da Polícia Federal” em uma declaração recente. Esse tipo de retórica evidencia a polarização política e a tensão que cerca as investigações em andamento.
A audiência no STF e os relatos do delegado Shor são cruciais para o desdobramento deste caso que não apenas envolve figuras proeminentes da política brasileira, mas também levanta questões importantes sobre a legalidade e a legitimidade das ações discutidas nas esferas de poder.
À medida que os detalhes do depoimento continuam a ser divulgados, a atenção do público e da mídia se volta para o impacto que esses desdobramentos poderão ter sobre a política nacional e a confiança nas instituições. O inquérito segue sob rigorosa análise, e novos desdobramentos são esperados nas próximas semanas.