Brasil, 22 de julho de 2025
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Celebrando 100 anos do julgamento de Scopes e o debate entre ciência e religião

Há um século, o julgamento de Scopes marcou a disputa cultural e religiosa sobre evolução e interpretação bíblica nos EUA

Neste 21 de julho de 2025, celebra-se o centenário do julgamento de John T. Scopes, ocorrido em Dayton, Tennessee, em 1925. Naquela época, o conflito entre teoria da evolução e interpretações literalistas da Bíblia esteve no centro de um acalorado debate sobre ciência, fé e identidade cultural americana.

O julgamento de Scopes e o mito do conflito

Acusado de ensinar a teoria da evolução, Scopes foi condenado por violar uma lei estadual que proibia a divulgação de ideias contrárias ao relato bíblico da criação. Seu caso foi defendido pelo advogado Clarence Darrow, emblemático representante do secularismo, enquanto William Jennings Bryan, um cristão protestante e político conservador, apoiava a legislação que defendia a leitura literal de Gênesis.

Embora a narrativa comum destaque um confronto direto entre “ciência” e “religião”, especialistas como o padre Thomas Davenport, físico e filósofo da Pontifícia Universidade de Santa Tomás, alertam para uma compreensão mais aprofundada da disputa. Davenport afirma que a controvérsia foi, na verdade, uma crise envolvendo principalmente protestantes americanos e suas interpretações, com a Igreja Católica tendo uma posição mais moderada.

O papel da Igreja Católica e o entendimento da evolução

Desde o século XIX, a Igreja Católica tem considerado a possibilidade de evolução. Segundo o professor Kenneth Kemp, da Universidade de St. Thomas em Minnesota, havia, ao fim do século XIX, três posições distintas entre os católicos acerca do tema: a negação da evolução do corpo, a compreensão de que o corpo evoluiu, mas a alma foi criada por Deus, e uma posição intermediária em que o corpo evolui até um estágio e a alma é criada por Deus.

Na época do julgamento, o Vaticano manteve silêncio, mas, décadas depois, Pio XII afirmou na encíclica Humani Generis que a evolução do corpo humano era compatível com a fé, desde que a alma fosse criada por Deus e toda a descendência humana remeta-se a Adão e Eva. Hoje, cerca de 62% dos católicos nos EUA acreditam na evolução, segundo a pesquisa da Gallup de 2024, número superior à média geral dos americanos.

A relação entre Bíblia e evolução na tradição católica

Especialistas como Davenport e Daniel Kuebler, biólogo da Universidade Franciscana, destacam que a leitura literal do início do Gênesis deve ser compreendida no seu gênero literário. Para Kuebler, o ensinamento central é que o ser humano possui um componente espiritual, a alma, que não evolui, reconhecendo a possibilidade de uma evolução material, mas não do espírito.

O debate, no entanto, persiste. Organizações como o Centro Kolbe defendem o criacionismo de seis dias, sustentando que a narrativa bíblica deve ser interpretada literalmente para manter a fidelidade à tradição cristã. Owen, seu diretor, acredita que a interpretação literal de Gênesis possui fundamento na tradição patrística, embora reconheça o entendimento de alguns teólogos antigos, como Santo Agostinho.

O que mudou e o que permanece

Ao longo das últimas décadas, a aceitação da evolução entre católicos e no público geral aumentou consideravelmente, mas alguns grupos continuam a questionar ou rejeitar essa teoria. Owen considera que muitos argumentos utilizados no passado foram posteriormente refutados, como fósseis considerados intermediários, como o Homem de Piltdown, que se revelou fraudulento.

No entanto, as evidências científicas atuais — fósseis de transição e análises genéticas — sustentam a ideia de que os seres humanos evoluíram de ancestrais primatas, com um componente material e um espírito criados por Deus. Kuebler ressalta que essas evidências não eliminam a possibilidade de a fé acolher a teoria da evolução, desde que se reconheça a dimensão espiritual.

Perspectivas para o futuro do diálogo entre ciência e fé

O centenário do julgamento de Scopes reforça a necessidade de um diálogo mais aprofundado e menos polarizador entre ciência e religião. Como apontam estudiosos, a história mostra que as diferenças geralmente refletem conflitos culturais e ideológicos, mais do que uma oposição inerente entre verdades científicas e verdades de fé.

Enquanto a questão da origem humana continua a ser tema de debate acadêmico e religioso, a postura da Igreja Católica permanece aberta à compreensão da evolução como uma teoria compatível com a crença em Deus, desde que a alma seja criada diretamente por Ele. Assim, o século XXI pode promover uma reflexão mais madura sobre as diversas formas de buscar a verdade, seja na ciência ou na fé.

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