A virtude da esperança, muitas vezes esquecida na pregação de Jesus, ganha destaque no cristianismo, especialmente nas palavras dos apóstolos após a ressurreição. Recentemente, o Padre Gerson Schmidt refletiu sobre isso em sua contribuição, onde menciona a obra do cardeal Raneiro Cantalamessa, destacando a ideia de que a esperança é uma porta formosa que deve ser aberta para Cristo.
A importância da esperança na mensagem cristã
Desde os tempos antigos, a esperança é considerada uma das virtudes teologais fundamentais da fé cristã. O Catecismo da Igreja Católica enfatiza que a esperança é um desejo de felicidade que Deus colocou no coração do ser humano. De acordo com o número 1818 do Catecismo, “a virtude da esperança corresponde ao desejo de felicidade que Deus colocou no coração de todo o homem”. Essa virtude serve para purificar e ordenar nossas aspirações para o Reino dos Céus, além de proporcionar força em momentos de desânimo.
Curiosamente, embora a esperança não apareça explicitamente nas pregações de Jesus, sua mensagem de ressurreição e vida eterna subentende essa expectativa vital. Após a ressurreição, a esperança se torna uma parte central da pregação apostólica, refletindo uma transformação na compreensão do papel que essa virtude desempenha na vida cristã.
A porta formosa da esperança
O título do livro de Cantalamessa, “A porta formosa da esperança”, faz referência a um episódio no Templo de Jerusalém, descrito em Atos dos Apóstolos (Atos 3,2), onde uma porta chamada “formosa” levou o apóstolo Pedro a realizar um milagre. Para Cantalamessa, essa porta é comparada à esperança que reside em nosso coração, esperando por Jesus. Ao abrir a porta de nossa vida para Cristo, somos conduzidos à verdadeira esperança.
Segundo o autor, existem dois tipos de esperança: a **esperança objetiva**, que refere-se ao que está sendo esperado, e a **esperança subjetiva**, que é o próprio ato de esperar. Essa dinamicidade da esperança é essencial para o crescimento espiritual. A esperança não é apenas uma expectativa passiva, mas uma força propulsora que nos move em direção a Deus.
Esperança como um motor da vida espiritual
A esperança é descrita por Cantalamessa como um “motor” para a vida espiritual. Quando a esperança é ativa, não ficamos parados, mas buscamos a plenitude da vida que Deus nos prometeu. Isso ecoa as palavras do Catecismo, que distinguem entre os aspectos objetivos e subjetivos da esperança, afirmando que é pela esperança que aspiramos ao Reino dos Céus.
Reflexões de Papa Francisco sobre a esperança
O Papa Francisco também tem refletido sobre a importância da esperança em seu papado, especialmente em momentos de crises pessoais e sociais. Ele enfatiza que a esperança não cede diante das dificuldades e é sustentada pela fé e pela caridade. Francisco frequentemente menciona a relação entre fé, esperança e amor, conforme Santo Agostinho, que considera essas três virtudes essenciais para a vida cristã.
A capacidade de esperar e confiar mesmo nos momentos mais sombrios é uma das mensagens centrais da fé cristã. O Papa destaca que a esperança nos dá paciência e persistência, importantes em uma sociedade que valoriza a instantaneidade. Nesse sentido, a paciência é uma virtude que nos ajuda a navegar pelas tempestades da vida.
A esperança em meio às tempestades da vida
No mundo atual, onde muitas vezes enfrentamos incertezas e provações, a esperança se torna um pilar fundamental. O Salmo 130, “De profundis”, exemplifica esse chamado à esperança, onde o salmista clama a Deus em momentos de desespero, lembrando que, assim como um vigia aguarda pela manhã, devemos esperar pelo Senhor. Essa busca por luz e consolo nas dificuldades é um reflexo da fé esperançosa que cada cristão deve manter.
Em conclusão, a porta formosa da esperança que se abre para Cristo é um convite a todos nós. Ao inteirarmo-nos da verdadeira essência da esperança, podemos viver uma vida plena e cheia de propósito, apoiados na certeza de que Deus está conosco nas tempestades e que Sua promessa de salvação é nossa verdadeira alegria e consolo.
*Padre Gerson Schmidt é um sacerdote, formado em Filosofia, Teologia e Jornalismo, com um Mestrado em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.