Ao anunciar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos a partir de agosto de 2025, Donald Trump também enviou um recado político e econômico ao Brasil. A carta, que faz defesa explícita de Jair Bolsonaro e critica o Supremo Tribunal Federal (STF), revelou um momento de tensão na relação entre os países, com implicações além da retórica política.
A reação brasileira às tarifas de Trump e a disputa por soberania digital
O anúncio gerou reações como a do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que afirmou que o Brasil é soberano e que irá cobrar impostos de empresas americanas digitais, reforçando sua postura de resistência às ações unilaterais dos EUA. “O país é soberano e vai cobrar imposto das empresas americanas digitais”, declarou Lula após o episódio.
Especialistas apontam que essa medida também pode ser entendida como uma resposta estratégica ao fortalecimento dos BRICS, que vêm adotando posturas mais firmes em defesa de sua soberania econômica em contraposição às pressões externas, especialmente das grandes empresas de tecnologia.
O papel das Big Techs e a resistência ao fortalecimento regulatório no Brasil
Um aspecto que passou quase despercebido na fala de Trump foi o forte apoio das gigantes tecnológicas ao movimento contra a regulamentação no Brasil. As empresas Google, Meta, Amazon e Twitter têm travado uma ofensiva contra iniciativas que aumentam a transparência e a responsabilidade das plataformas digitais, como o julgamento do Artigo 19 do Marco Civil e propostas de regulação da inteligência artificial.
Desde junho de 2025, o Supremo Tribunal Federal adotou medidas de responsabilidade das plataformas por conteúdos ilegais, marcando um divisor de águas na regulação da internet brasileira. Essa ofensiva regulatória, que visa promover uma internet mais democrática e responsável, ameaça os interesses das Big Techs, que resistem a obrigações de transparência e responsabilidade, alegando custos adicionais e redução de liberdade operacional.
Pressão de Trump e o lobby das empresas de tecnologia
A carta do ex-presidente americano também deve ser encarada como uma estratégia de pressão econômica das Big Techs, alinhadas aos interesses do Vale do Silício. Segundo análises, o recado de Trump é claro: mexer com as Big Techs implicará custos altos, sob a justificativa de proteger a “liberdade de expressão” no ambiente digital.
Essa postura é acompanhada por projetos como a tramitação da regulamentação da inteligência artificial, que busca garantir maior transparência e responsabilidade social, e que encontra forte resistência deste setor. As empresas de tecnologia veem tais regulações como obstáculos à sua expansão e lucros.
Brasil em busca de soberania digital
Desde 2025, o Brasil vem dando passos firmes na consolidação de sua soberania digital. Em junho, o STF responsabilizou plataformas por conteúdos ilegais de forma mais ágil, enquanto projetos de regulação de IA e responsabilidades das plataformas deixam claro o desejo do país de construir uma internet mais justa e democrática.
O país tem defendido internacionalmente uma agenda que reafirma o direito dos povos de decidir sobre suas infraestruturas tecnológicas, com ênfase em justiça social, proteção de dados e acesso equitativo ao conhecimento. Essa postura contrasta diretamente com os interesses das gigantes do setor, que querem manter o domínio e o controle dos seus interesses econômicos e políticos.
O risco da influência externa e a necessidade de soberania democrática
A carta de Trump revela uma tentativa de frear a soberania digital brasileira por meio de ações econômicas e políticas, numa estratégia que visa proteger os interesses das grandes empresas de tecnologia ao mesmo tempo que desafia a autonomia do país. Para especialistas, o momento exige que o Brasil esteja atento às entrelinhas desse conflito e fortaleça sua capacidade de regulação, inovação e inclusão digital.
Defender a soberania digital brasileira não significa isolamento, mas sim promover um ecossistema tecnológico baseado em princípios de justiça, inclusão e participação social. É necessário estimular tecnologias abertas, desenvolvimento local e o papel do Estado como garantidor de direitos, não como controlador autoritário.
Como afirma Míriam Leitão, essa ofensiva é um sinal de que o Brasil está começando a ocupar seu espaço no cenário global, deixando de ser apenas mercado para se tornar ator ativo na governança do ambiente digital. A resistência às pressões externas é também um esforço de construir uma infraestrutura tecnológica soberana e democrática, em consonância com os interesses da sociedade.
Para acompanhar os desdobramentos dessa disputa, leia mais em “A carta de Trump ao Brasil foi escrita também por mãos do Vale do Silício”.