O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira que vai usar “todas as palavras do dicionário” para negociar com os Estados Unidos a revogação do tarifaço de 50% sobre exportações brasileiras ao país. A declaração foi dada em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, na CNN Internacional, após o anúncio pelo governo americano da medida tarifária.
Estratégia de negociação e resposta jurídica
Lula destacou que, além do diálogo diplomático, o Brasil está preparado para recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) e formar um grupo de países na resposta às tarifas de Donald Trump. Segundo o presidente, “se não houver acordo, podemos usar a Lei da Reciprocidade e outras ferramentas jurídicas”.
“Vamos usar todas as palavras que existem no dicionário para tentar negociar e, se necessário, agir na OMC. Podemos juntar um grupo de países na resposta e também recorrer à Lei da Reciprocidade”, afirmou Lula. Ele reforçou que há um esforço para abrir novos mercados e minimizar os efeitos do tarifão.
Analisa do plano B e manutenção do bom relacionamento
Questionado sobre uma eventual continuidade do tarifaço, Lula afirmou que busca diversificar os mercados do Brasil, embora nunca tenha imaginado brigar com os Estados Unidos. “Jamais imaginei que uma disputa com os EUA fosse necessária, e quero manter uma boa relação com Trump”, disse. Lula também lamentou a postura do americano, ressaltando que os dois países têm um histórico de boas relações de mais de 200 anos.
“Lamento que dois países que têm um relacionamento tão antigo prefiram uma batalha judicial por causa de uma atitude de Trump, que não respeita a soberania brasileira”, comentou o presidente. Ele reforçou ainda que a prioridade do Brasil é a negociação e a paz, e não a confusão ou conflitos comerciais.
Reação ao anúncio e perspectiva diplomática
Lula criticou a forma como Trump anunciou o tarifaço, destacando que foi uma surpresa tanto pelo conteúdo quanto pela ausência de canais diplomáticos tradicionais. “Faltou um pouco de multilateralismo no mindset de Trump”, apontou Lula, que inicialmente acreditou tratar-se de uma fake news.
“A carta de Trump representou uma quebra de protocolo diplomático entre dois chefes de Estado”, afirmou o presidente brasileiro. Ele também manifestou que a equipe de governo vem negociando há meses com os EUA, mas se surpreendeu com a publicação da medida no site do próprio Trump, sem resposta às propostas enviadas anteriormente.
Posicionamento sobre relação bilateral e justiça brasileira
Lula afirmou que a relação com os EUA, apesar do recente conflito tarifário, não vive uma crise. “Brasil quer diálogo, negociação e paz. Somos aliados históricos, e não aceitaremos imposições”, garantiu.
O presidente reforçou que a Justiça no Brasil é independente e que não interferirá nos processos judiciais relacionados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentar um golpe de estado. “Bolsonaro responde à Justiça com base na lei. O presidente dos EUA foi eleito para governar, não para ser imperador do mundo”, declarou.
Impactos e próximos passos
Segundo Lula, o governo segue negociando com os Estados Unidos e busca ampliar outros mercados para o Brasil. “Ainda não vejo crise na relação bilateral. Nosso foco é a negociação, não a confusão”, acrescentou.
O governo americano anunciou a medida tarifária sem aviso diplomático, apenas por meio de uma postagem em rede social. Lula criticou a ação, ressaltando a necessidade de mais multilateralismo e respeito às etapas diplomáticas.
Para o futuro, o presidente reafirmou que o Brasil continuará buscando alternativas comerciais e que a resposta às tarifas será coordenada de forma estratégica, sempre defendendo os interesses nacionais.
Fonte: O Globo