A investigação aberta na última terça-feira (15), a pedido do governo de Donald Trump, aponta possíveis práticas comerciais desleais relacionadas ao sistema de pagamento instantâneo do Brasil. Embora o documento oficial não mencione diretamente o PIX, faz referência a “serviços de comércio digital e pagamento eletrônico”, áreas em que o sistema brasileiro, o único de âmbito governamental com essa finalidade, se destaca.
Motivos por trás da investigação dos EUA sobre o PIX
Concorrência com empresas americanas
Especialistas afirmam que o embate do PIX com grandes empresas de cartões de crédito americanas, como Visa e Mastercard, bem como fintechs do próprio Brasil, estaria entre os principais motivos para a ofensiva dos Estados Unidos. “O sistema compete com modelos de negócio baseados em taxas por transações, o que impacta diretamente a receita de empresas de alta tecnologia e bancos tradicionais,” explica Jorge Ferreira, economista da ESPM.
Para Ralf Germer, CEO da PagBrasil, o PIX é uma tecnologia avançada que favorece uma concorrência saudável, sem, no entanto, ter sido criado para substituir ou prejudicar os interesses dos EUA. “Desde seu lançamento, outras formas de pagamento, principalmente os cartões, continuam em crescimento,” afirma.
PIX Internacional e o impacto no dólar
O Banco Central do Brasil trabalha atualmente na viabilização do PIX internacional, que já é utilizado, de forma restrita, em países como Estados Unidos, Portugal e Argentina. A expectativa é que, futuramente, o sistema conecte pagamentos transfronteiriços, especialmente entre países do BRICS, o que pode desafiar a hegemonia do dólar no comércio global.
Especialistas avaliam que a integração do PIX ao comércio internacional, aliado à possível criação de uma moeda única do BRICS, incomodaria os EUA, pois poderia diminuir a dependência do moeda americana nas negociações internacionais. “Os EUA veem esse movimento como uma ameaça ao papel do dólar como moeda de reserva global,” aponta Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.
O sucesso do PIX vira exemplo e ameaça
O peso do PIX como modelo de inovação estatal também chama a atenção internacional. Pedro Henrique Ramos, do RegLab, destaca que o sistema virou uma vitrine do Brasil e um exemplo de infraestrutura pública de pagamentos eficiente, capaz de influenciar outros países.
Por outro lado, essa evolução também causou preocupação nos EUA. “O sucesso do PIX representa uma ameaça direta à posição dominante das empresas americanas no mercado mundial de meios de pagamento,” afirma Ramos. Ainda assim, os especialistas ressaltam que o sistema, por enquanto, não foi criado para substituir os métodos tradicionais, como o uso de cartões.
Questões econômicas e geopolíticas
Além da competição comercial, o governo dos EUA também questiona o suporte do Brasil ao seu sistema próprio, alegando práticas favoritistas que prejudicariam empresas americanas do setor, incluindo Big Techs como Google e Meta. “A integração de regras legais que fortalecem o modelo nacional de pagamentos é vista como uma afronta pelo governo norte-americano,” aponta Lia Valls, especialista em regulação digital.
O conflito também faz parte de uma disputa mais ampla por influência no cenário mundial, onde infraestruturas digitais soberanas, como o PIX, são cada vez mais utilizados como instrumentos de inclusão social e de redução da dependência do dólar.
Perspectivas e impactos futuros
Com o fortalecimento do PIX e seu potencial de expansão internacional, o Brasil reforça sua posição no cenário financeiro mundial. No entanto, essa estratégia de avanço também traz riscos de retaliações e pressões diplomáticas, sobretudo por parte dos Estados Unidos, que veem na inovação brasileira uma ameaça a seus interesses econômicos e políticos.
O Banco Central projeta o avanço do sistema, como o uso do PIX para pagamentos transfronteiriços e possíveis novas moedas digitais do BRICS, embora esses movimentos possam provocar resistência de Washington, especialmente se ameaçarem a hegemonia do dólar no comércio internacional.