Brasil, 17 de julho de 2025
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Governo Lula reverte queda na aprovação com resposta a tarifas de Trump

O presidente Lula vê leve recuperação na popularidade após críticas ao tarifaço dos EUA, mas ainda enfrenta desafios de rejeição.

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu reverter a tendência negativa na popularidade que enfrentava desde o ano passado, embora continue mais rejeitado que aprovado entre os brasileiros. A melhora é apontada pela mais recente rodada da pesquisa Genial/Quaest, divulgada na quarta-feira, e coincide com a reação do petista ao tarifaço anunciado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, além da aposta da gestão Lula na campanha de taxação de super-ricos. Os resultados mostram que a leve recuperação foi puxada por segmentos menos identificados com a base social do PT, como eleitores com renda média, mais escolarizados e moradores do Sudeste.

Taxa de desaprovação recua e aprovação aumenta

Após uma sequência de quedas, a taxa de desaprovação do governo recuou de 57% para 53%, na comparação com a pesquisa anterior. O percentual dos brasileiros que aprovam o governo, por sua vez, avançou de 40% para 43%. É a primeira melhora no índice depois da sequência de reveses iniciada em julho de 2024. Com o resultado — apesar de as variações estarem na margem de erro, de dois pontos percentuais —, a distância entre os dois grupos caiu de 17 para 10 pontos.

A pesquisa mostra ainda que o percentual dos que avaliam o governo como negativo passou de 43% para 40%. Já os que se veem a gestão como positiva foram de 26% para 28%, mesmo patamar de percepção regular. A Quaest aponta que a desaprovação ao governo caiu seis pontos percentuais entre brasileiros com renda mensal de dois a cinco salários mínimos, oito pontos na Região Sudeste, a mais populosa do país, e cinco pontos entre as mulheres. A queda foi ainda maior, de 11 pontos, no eleitorado com ensino superior.

Apoio ao governo e crítica a Donald Trump

“A recuperação do governo aconteceu na classe média, com maior escolaridade, no Sudeste. São os segmentos mais informados da população, que se percebem mais prejudicados pelas tarifas de Trump, e que consideram que Lula está agindo de forma correta até aqui, por isso passam a apoiar o governo”, avalia o diretor da Quaest, Felipe Nunes.

O instituto fez as 2.004 entrevistas presenciais entre quinta-feira e segunda-feira, ou seja, logo após Trump indicar que os EUA passarão a taxar em 50% produtos brasileiros e citar, entre as justificativas para a medida, o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, chamado de “caça às bruxas”. Na quarta-feira, o americano voltou a sair em defesa do aliado. O levantamento captou a percepção da população sobre o tarifaço e indica que há um alinhamento com a posição tomada pelo governo, o que reforça que o episódio impactou a visão do eleitorado sobre Lula.

Visão do eleitorado sobre a taxação de super-ricos

Somam 72% os entrevistados que consideram que a decisão do presidente americano foi um erro e chegam a 53% os que avaliam que Lula está certo ao reagir com reciprocidade às tarifas. Além disso, 44% veem o presidente “mais certo” no embate com Trump, contra 29% que pensam o mesmo sobre o bolsonarismo. A vantagem do governo se repete, inclusive, entre quem diz não ter posicionamento político.

Outro dado que favorece a gestão Lula é que a maior parte dos entrevistados (84%) afirma que gostaria que governo e oposição trabalhassem juntos para enfrentar o problema. O posicionamento reforça a dificuldade enfrentada por lideranças da direita — boa parte delas adotou a estratégia de se alinhar a Trump contra Lula. Mesmo entre eleitores de Bolsonaro, porém, 74% defendem a união entre os polos no tema.

Desafios ainda persistem para o governo Lula

O GLOBO apurou que, diante do resultado, o Palácio do Planalto pretende reforçar a aposta no discurso crítico a Trump e na defesa da soberania, mote que direcionou a comunicação oficial. Na quarta-feira, Lula gravou um pronunciamento sobre o tarifaço para ser exibido em cadeia de rádio e TV. Auxiliares do presidente associam a mudança ao episódio, mas também à campanha pela taxação dos mais ricos que mobilizou a base nas últimas semanas.

O governo tem defendido um projeto de país com justiça tributária e melhor distribuição de renda. Tem defendido também a soberania nacional diante dos ataques tarifários, com serenidade e diálogo. Isso é forte e dialoga com os interesses da maioria — disse o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB).

A Quaest também questionou os entrevistados sobre a taxação dos super-ricos. Embora o aumento de impostos para o grupo com o objetivo de diminuir o peso dos tributos aos mais pobres tenha apoio de 63% dos entrevistados e 75% se mostrem a favor de ampliar a faixa de isenção do Imposto de Renda, o mote de “ricos contra pobres” adotado pelo governo não é bem visto pela maioria (53%).

A estratégia foi adotada após o Congresso derrubar o decreto do governo que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e levou a ataques de apoiadores de Lula ao Legislativo e ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), nas redes sociais, inclusive com uso de imagens geradas por meio de tecnologias de inteligência artificial.

Os dados da pesquisa revelam, porém, que a campanha não atingiu boa parte da população. Não ficaram sabendo da agenda de “justiça tributária” do governo 56% dos entrevistados, ante 43% que afirmaram que tiveram conhecimento da iniciativa. Além disso, 72% não viram conteúdos críticos a Motta.

A pesquisa anterior da Genial/Quaest havia sido feita poucos dias depois de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciar a elevação do IOF e recuar parcialmente de alguns trechos, sob fortes críticas. A avaliação negativa do governo colocou Lula no mesmo patamar de Bolsonaro em momentos similares do mandato, quando o rival enfrentava os desdobramentos da CPI da Covid, em junho de 2021.

A expectativa no Planalto é que o cenário demonstre ter sido superada definitivamente a crise gerada pelo escândalo das fraudes nas aposentadorias e pensões do INSS. Apesar da melhora no novo levantamento, Lula ainda enfrenta desafios para retomar os patamares identificados há um ano — em dezembro, o percentual de aprovação ao governo era maior que o de insatisfeitos. O petista também não recuperou a ampla vantagem que tinha no Nordeste (foi de 41 para 9 pontos a distância entre aprovação e reprovação). Além disso, não houve reação entre os evangélicos — a desaprovação variou três pontos para cima em um mês, atingindo 69%.

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