Em um período surpreendentemente curto, a Câmara Municipal de Bariri, no interior de São Paulo, presenciou a cassação de dois de seus nove vereadores. As acusações de quebra de decoro parlamentar abriram um debate acirrado na cidade, e ambos os envolvidos prometem recorrer judicialmente para reverter as decisões. Os suplentes já assumiram seus postos, mas o clima de tensão permanece no Legislativo local.
As acusações contra os vereadores
O primeiro vereador a ter seu mandato cassado foi Gilson de Souza, do PSB, no dia 4 de junho. Ele foi acusado de assédio moral e perseguição a funcionárias da Prefeitura. Gilson, além de vereador, é um agente de manutenção concursado e presidente do Sindicato dos Servidores Municipais. A denúncia foi encaminhada ao Ministério Público, que recomendou a cassação, seguido por unanimidade na Câmara.
Em defesa, Gilson nega as alegações, afirmando que os supostos atos ocorreram em 2011, antes de sua posse. “Fui alvo de uma articulação política. Todos os blocos se uniram contra mim, inclusive aqueles que estavam comigo nas eleições”, disse em uma entrevista à TV TEM. Ele já recorreu da decisão e está disposto a levar o caso até as últimas instâncias.
Na sequência, no dia 15 de julho, foi a vez de Mirella Soares, do DEM, ser cassada. Ela é a única mulher trans a ocupar um cargo no Legislativo do Centro-Oeste Paulista e foi acusada de ter recebido horas extras enquanto trabalhava em home office como agente administrativa da Secretaria de Saúde. Esse ato violaria a Lei Orgânica do Município.
Mirella argumenta que a denúncia teria motivações pessoais, sendo feita por uma ex-servidora que já a agredira fisicamente em outra ocasião. “O Ministério Público analisou meu caso e pediu o arquivamento, assim como o juiz e a Procuradoria da Câmara. Mesmo assim, os vereadores seguiram com a cassação”, afirmou ela, que também está recorrendo na Justiça.
Reação do Legislativo e repercussão na cidade
A cassação de Gilson e Mirella não apenas impactou os envolvidos, mas causou um verdadeiro alvoroço na comunidade de Bariri, que conta com pouco mais de 32 mil habitantes. As sessões da Câmara ocorrem a cada 15 dias e, com as recentes mudanças, o Legislativo está passando por uma recomposição parcial. Os suplentes Paulo Fernando Crepaldi e Ivani Maria de Carvalho já assumiram os lugares de Gilson e Mirella, respectivamente.
Ricardo Prearo, presidente da Câmara, defendeu que todos os trâmites legais foram seguidos. Ele enfatizou que a diferença de entendimento entre a Câmara e o Ministério Público é natural, dado que cada órgão analisa fatores distintos — o Ministério Público de um ponto de vista criminal e a Câmara de uma perspectiva administrativa.
Os próximos passos
Com o enredo político se desdobrando rapidamente, as promessas de disputas judiciais estão no horizonte. Os ex-vereadores Gilson e Mirella já afirmaram sua intenção de lutar judicialmente por seus mandatos. A repercussão do caso, junto com a tensão crescente nas relações políticas em Bariri, promete marcar um novo capítulo na história do Legislativo local.
A situação se destaca não apenas pelos desdobramentos legais, mas também pelo impacto que essas cassações podem ter sobre a confiança da população nas instituições políticas da cidade. A política em Bariri entra em um momento de fragilidade e questionamentos, à medida que a população aguarda as resoluções dos casos e a continuidade das atividades legislativas, que agora enfrentam um novo contexto de recomposição e disputas internas.
A cidade observa atentamente os próximos passos de seus representantes, enquanto um clima de incerteza paira sobre o futuro da política local.