A construção e operação do campo de detenção “Alligator Alcatraz”, idealizado pelo governador da Flórida, Ron DeSantis, tem gerado grande preocupação e polêmica. Através da análise de mais de uma dúzia de contratos e faturas, a TPM identificou oito empresas, algumas delas listadas entre as 500 maiores do mundo, envolvidas na controversa instalação em meio aos Everglades. Além disso, surgiram evidências de que recursos destinados à “preparação para desastres” foram desviados para o acampamento, o que levanta questões sobre o impacto nas operações de emergência durante a atual temporada de furacões.
O apressado estabelecimento do acampamento
A proposta do campo foi anunciada pelo Procurador-Geral da Flórida, James Uthmeier, ex-chefe de gabinete de DeSantis e ex-gerente da campanha presidencial do governador em 2024. Desde o anúncio, o estado se apressou em implementar a proposta, evidenciada pelos contratos que incluíram taxas para “urgência”, uso de recursos de desastre e informações indicando que o local continuava em construção e recebendo suprimentos após sua abertura oficial em 1º de julho.
Os opositores do projeto expressaram preocupações sobre o potencial impacto ambiental, as condições enfrentadas pelos detidos e a transparência do processo de contratação. Especialistas e advogados questionam o acesso a informações sobre os detidos e a identidade das empresas contratadas para fornecer serviços ao acampamento.
Financiamentos controversos
Foram identificados contratos e faturas que somam um total de R$ 19.983.785,03 no Sistema de Rastreamento de Contratos da Flórida. A natureza emergencial desses contratos suscitou receios de que, em alguns casos, os produtos e serviços adquiridos para o acampamento estavam sendo destinados a situações críticas, desviando recursos de onde eram realmente necessários.
Um desses contratos, com a Baker’s Electronics & Communications Inc., previa o pagamento de quase R$ 500 mil por um sistema de comunicação frequentemente utilizado por agências de segurança pública. O documento especificava que o sistema seria usado no campo de detenção e indicava que equipamentos da infraestrutura de emergência do estado estavam sendo retirados, ressaltando os riscos de resposta a desastres durante a temporada de furacões.
Reações políticas e impactos sociais
O campo “Alligator Alcatraz” tem sido parte das iniciativas de DeSantis para apoiar a agenda de deportações em massa do ex-presidente Donald Trump. Enquanto esse projeto aparentemente oferece ao governador um aumento político, sua implementação rápida e os métodos controversos geraram críticas significativas tanto de democratas quanto de defensores dos direitos humanos.
Um dos eventos de abertura, realizado em 1º de julho, contou com a presença tanto de DeSantis quanto de Trump, ensaiando um retorno ao camaradagem política após uma rivalidade na primária republicana do ano anterior. Durante a cerimônia, DeSantis fez referências à atmosfera desafiadora do local, contagiosamente batizado de “Alligator Alcatraz”.
Investigação e novos contratos
À medida que a pressão sobre o campo aumenta, o Partido Democrata da Flórida solicitou formalmente acesso a documentos relacionados aos contratos do estado em torno do acampamento. As preocupações levantadas sobre a gestão do acampamento são significativas, principalmente no que diz respeito aos gastos exorbitantes e à falta de transparência na administração dos recursos públicos.
Além disso, a TPM relatou que, entre os contratos obtidos, um terceiro dos investimentos foi direcionado à empresa Meridian Rapid Defense Group LLC, que fornece barreiras de segurança, totalizando mais de R$ 11 milhões em contratos. Esta empresa já havia oferecido produtos em diversos eventos de alta visibilidade, como convenções políticas e cerimônias do estado.
Conclusão: um futuro incerto
A implementação do campo de detenção “Alligator Alcatraz” e os processos de contratação em torno dele têm levantado alarmes significativos. As vozes de preocupação a respeito dos direitos dos detidos, o impacto ambiental e os potenciais desvio de recursos públicos estão em alta. Com a pressão crescente, a situação continua a evoluir, prometendo desdobramentos importantes e possivelmente alterações na forma como a política de imigração é gerida na Flórida.