No último período, o Brasil tem intensificado suas conversas com os Estados Unidos, realizando um total de onze encontros desde março deste ano. Entre esses, quatro foram de nível ministerial e sete de nível técnico, com o objetivo de abordar questões comerciais importantes e tentar reverter as ameaças de tarifas elevadas impostas pelo presidente Donald Trump. O governo brasileiro busca não só dialogar, mas também fortalecer sua posição nas negociações comerciais, escutando empresários e buscando aliados na economia americana.
A pressão das tarifas americanas
A estratégia do presidente Trump parece ser de isolar o Brasil e forçá-lo a uma rendição institucional. A pressão é especialmente intensa para setores cruciais, como o das laranjas e a indústria aeronáutica, com a Embraer dependendo drasticamente de peças e componentes americanos. Em uma recente carta enviada ao governo estranho, o Brasil lembrou de sua disposição para negociar, apresentando propostas que incluem a aceleração na emissão de patentes e ações contra a pirataria. O USTR, agênciade comércio dos EUA, já reconheceu avanços do Brasil nessas áreas, mas a situação permanece tensa.
Um clima amistoso nas reuniões
As reuniões realizadas pela equipe do governo brasileiro com empresários têm sido descritas como “amistosas”. Os empresários, cientes do impacto das tarifas, têm apoiado a busca por soluções pacíficas. Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, compartilhou que o governo pretende mobilizar aliados americanos que também têm interesse em manter boas relações comerciais com o Brasil. A ideia é que o setor privado ajude a canalizar a insatisfação contra as medidas de Trump.
Desafios diante das ameaças
A pressão para ceder às demandas americanas é intensa. A imposição de tarifas altíssimas, anunciada por Trump, parece uma estratégia calculada para deixar o Brasil em uma posição de desvantagem nas conversações. O economista Leonardo Paz Neves, professor de Relações Internacionais, aponta que, fora produtos como etanol, aço e suco de laranja, o espaço para negociação é limitado. Isso levanta a questão de como o Brasil poderá sustentar suas relações comerciais sob tanta pressão.
Um dos maiores receios é a possibilidade de retaliações que possam afetar diretamente pequenos produtores brasileiros, como os exportadores de mel do Piauí e do Ceará. A situação é crítica, uma vez que muitos já têm suas mercadorias nos portos esperando para serem embarcadas. A demora nas negociações pode resultar em perdas irreparáveis para esses pequenos negócios.
A eficácia do sistema de pagamento, o Pix
Um dos pontos controversos nas negociações é a inclusão do sistema de pagamento Pix como alvo de investigações por práticas comerciais desleais. Mercadante defendeu que não se deve penalizar um país apenas por suas inovações. Ele afirmou que as melhorias em eficiência e transparência são parte natural do crescimento econômico e não devem ser alvo de tensões comerciais. Essa comparação revela a fragilidade dos argumentos apresentados pelos EUA nas discussões.
O panorama futuro das negociações
Embora o governo brasileiro tenha demonstrado uma postura negociadora, as chances de uma solução mútua continuam incertas. Especialistas indicam que, a princípio, não há muitos produtos em que o Brasil consiga barganhar sem correr o risco de descontentamento na União Europeia, para a qual o país já possui compromissos comerciais. Essa situação leva à conclusão de que, enquanto o Brasil tenta se posicionar como um mediador adulto nas discussões, Trump parece cada vez mais decidido em aumentar suas ameaças, tornando a negociação um campo minado.
No cerne das atividades que vêm sendo realizadas, o Brasil deve continuar a buscar vozes no setor privado que possam apoiar suas demandas e pressionar tanto o governo americano quando a arte da negociação forçado por Trump. O governo Lula pretende seguir reafirmando sua posição e espera que o diálogo continue, mesmo diante de um cenário tão tumultuado.