Uma pesquisa do Pew Research Center, divulgada nesta semana, aponta uma forte mudança na imagem dos Estados Unidos e da China ao redor do mundo. Apesar de ainda serem vistos como principais potências, o desgaste na confiança nos EUA ocorre desde o retorno de Donald Trump à Casa Branca, enquanto a percepção sobre a influência chinesa se fortalece em diversos países.
Declínio na confiança nos EUA e avanço da China na economia global
Realizado com 28 mil pessoas em 24 países entre 8 de janeiro e 26 de abril, o levantamento mostra que, embora 49% dos entrevistados tenham uma visão positiva dos EUA, esse índice vem caindo. Já a China, considerada por 37% como a principal potência, vem ganhando espaço — na França, por exemplo, 49% veem Pequim como dominando a economia, contra 37% que pensam o mesmo sobre Washington.
As contradições na relação com os EUA
Apesar de muitas nações considerarem os EUA seu principal aliado, o relatório revela que os americanos também são apontados como uma das maiores ameaças, sobretudo na Europa e na América Latina. França, Alemanha, Suécia e Reino Unido colocam Washington como segunda maior ameaça após a Rússia, enquanto Argentina, Brasil e México destacam os EUA como maior risco à segurança nacional.
‘Desengajamento americano’ e influência aumentada da China
O estudo aponta que o país estaria “minando alianças e parcerias econômicas”, além de reduzir sua presença internacional. Parlamentares democratas do Senado americano acusam o governo Trump de “ceder à liderança global à China”, por meio de cortes na ajuda externa e no corte de apoio a organismos como a Voz da América. Segundo eles, essa postura enfraquece a capacidade dos EUA de superar Pequim.
Reforço chinês no cenário mundial
Enquanto isso, a China vem ampliando sua influência ao reforçar investimentos diplomáticos, aumentar recursos destinados à Organização Mundial da Saúde e promover programas de intercâmbio culturais. Segundo o relatório, Pequim usa suas “alavancas diplomáticas em países do Sul Global para retratar os EUA como um parceiro pouco confiável”.
Percepções que se inverteram ao longo do tempo
O documento revela que, em 2024, o índice de confiança em Biden na Alemanha chegou a 63%, enquanto a confiança em Trump caiu para 18%. A confiança em Xi Jinping subiu de 17% para 25%. Desde 2017, a mediana de confiança em Biden sempre foi maior que a em Xi, mas neste ano essa vantagem quase se igualou, marcando uma nova fase no cenário internacional.
O sentimento de insegurança cresce na maioria dos países, com aumento na percepção de ameaça aos interesses americanos, sobretudo na América Latina, onde Argentina, Brasil e México reforçam a ideia de Washington como maior risco.
Reação dos EUA e perspectivas futuras
Os defensores da política de Trump argumentam que o governo foi eficaz ao reestabelecer a força dos EUA, destacando acordos comerciais e ações para conter a disseminação do fentanil na China. Entretanto, líderes democratas alertam para o risco de o país perder seu protagonismo, citando o fortalecimento da China e a deterioração de alianças estratégicas.
O relatório indica que a atual postura dos EUA, marcada pelo “recuo” sob Trump, favorece o crescimento da influência chinesa, que amplia sua presença diplomática e econômica ao redor do mundo, especialmente na África, Ásia e América Latina.
Segundo especialistas ouvidos pelo jornal, é provável que o cenário global continue a mudar, com um possível aumento do contraste entre as imagens de Washington e Pequim na opinião mundial.