Brasil, 16 de julho de 2025
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Operação da polícia desarticula quadrilha em bairro de prostituição de Campinas

Polícia Civil atua no Jardim Itatinga, um dos maiores centros de prostituição da América Latina, e desmantela grupo criminoso.

Na última terça-feira (15), uma operação da Polícia Civil de São Paulo resultou na desarticulação de uma quadrilha que usava garotas de programa para extorquir vítimas no Jardim Itatinga, um bairro de Campinas (SP) conhecido por ser o único no Brasil projetado exclusivamente para atividades de prostituição. O local se destaca na América Latina, abrigando atualmente cerca de 1,7 mil trabalhadores do sexo e 117 estabelecimentos que operam 24 horas por dia.

A história do Jardim Itatinga

O Jardim Itatinga foi criado durante o regime militar, como uma tentativa de isolar profissionais do sexo do restante da população. Essa estratégia resultou em um bairro que, ao longo das décadas, consolidou-se como um importante reduto de prostituição. Na pesquisa da arquiteta e urbanista Diana Helene, que se dedicou ao estudo do local em sua tese de doutorado, o bairro é descrito como um exemplo inédito de planejamento urbano no Brasil, especificamente voltado para a concentração de atividades ligadas à prostituição.

Uma segregação planejada

Diana Helene explica que a criação do Jardim Itatinga foi uma decisão motivada por questões morais, que buscavam dividir as mulheres em duas categorias: as “santas” e as “putas”. A ideia era que essas duas classes de mulheres não deveriam coexistir na mesma área, especialmente considerando o crescimento urbano que ocorreu na década de 1960 devido à industrialização.

“As prostitutas estão protegidas para encarnar livremente seu papel, sem entrarem em conflito com a sociedade. Os clientes também ficam protegidos, evitando o estigma associado ao consumo de serviços sexuais”, ressalta a pesquisadora.

A dinâmica do bairro

Ao adentrar o Jardim Itatinga, os visitantes rapidamente se deparam com um ambiente fortemente ligado à prostituição. Além das casas de prostituição e boates, há lojas especializadas que atendem às necessidades dos profissionais do sexo. A presença de famílias que não se envolvem com o mercado sexual também é perceptível, com residências sinalizadas como “casa de família” em meio à oferta de serviços sexuais.

Este cenário cria um contraste interessante, pois o bairro não é composto unicamente por trabalhadores do sexo; há ainda centros de saúde, escolas infantis e ONGs que provêm assistência social. Esta diversidade ajuda a desmistificar o estigma associado à prostituição, mostrando que o Jardim Itatinga é um microcosmo complexo onde diferentes realidades coexistem.

Impactos da pandemia e da revolução digital

A pesquisadora Carolina Bonomi, que passou um ano acompanhando as profissionais do sexo no Jardim Itatinga, afirma que o bairro e suas dinâmicas estão se adaptando, apesar do crescimento do mercado sexual online e do impacto gerado pela pandemia. “Embora após o Auxílio Emergencial tenha havido uma queda nas atividades presenciais, muitas profissionais começaram a integrar os trabalhos, vendendo conteúdo online para complementar a renda”, explica Carolina.

Ela observa que o público que frequenta o Jardim Itatinga é bastante diversificado, e muitos consumidores preferem a interação presencial. “A experiência de estar em um cabaré, por exemplo, é valorada por aqueles que buscam mais do que apenas o ato sexual, mas também a convivência e o flerte”, acrescenta.

Extorsão e crimes no Jardim Itatinga

A recente operação policial que desmistificou a quadrilha que extorquia clientes em Itatinga trouxe à tona a vulnerabilidade enfrentada por muitas profissionais do sexo. As garotas de programa eram utilizadas para atrair clientes e, posteriormente, eram ameaçadas para que os homens pagassem por serviços não prestados ou por “proteção”. Este tipo de crime evidencia a necessidade de maior segurança e proteção às trabalhadoras do sexo, que muitas vezes se encontram em situações de exploração.

A cidade de Campinas continua a debater as complexas questões envolvidas na prostituição, e o Jardim Itatinga se mantém como um estudo de caso vital para entender não apenas as dinâmicas do trabalho sexual, mas também as influências sociais, econômicas e culturais que moldam esses contextos.

O futuro do Jardim Itatinga e de suas profissionais talvez não esteja ameaçado por novas tecnologias, mas sim pela necessidade de reformulações nas práticas de segurança e direitos humanos, garantindo proteção e dignidade a todos os envolvidos.

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