Os frigoríficos de Mato Grosso do Sul (MS) começaram a interromper a produção de carne bovina destinada aos Estados Unidos, em função da tarifa de 50% anunciada pelo governo de Donald Trump, prevista para entrar em vigor em agosto. A medida deve impactar negativamente as exportações brasileiras, especialmente para o segundo maior mercado externo do setor.
Impacto da tarifa de Trump na exportação de carne bovina
Segundo a Associação de Exportadores de Carne de MS, a tarifa de Trump torna inviável o envio de carne bovina para os EUA, que atualmente respondem por 12% do mercado de carnes brasileiras. Com a medida, as empresas do Estado já reduziram sua produção voltada para esse destino, buscando alternativas em outros países.
Fernando Henrique Iglesias, analista do Safras & Mercados, alerta que os frigoríficos terão que redirecionar suas vendas. “A nossa sorte é que há mais de 100 países comprando carne do Brasil”, afirma. Além disso, a Associação Brasileira da Indústria de Carnes (Abiec) ressaltou que abriu escritório na China neste ano para facilitar negócios na Ásia e o Vietnã retomou as compras de carne bovina brasileira.
Destinos alternativos para carne bovina brasileira
Apesar da China e dos EUA serem os principais compradores de carne brasileira, o perfil de consumo desses mercados é diferente. Os EUA compram principalmente carne utilizada em hambúrguer e alimentos processados, o que exige ajustes na logística de exportação.
O México, Egito, Canadá, Chile e Emirados Árabes são considerados os principais mercados alternativos para absorver as exportações brasileiras, evitando prejuízos às empresas do setor. “A diversificação de destinos é essencial para minimizar os impactos da tarifa”, comenta Iglesias.
Repercussões nos setores de café, suco e etanol
Café
Os EUA são responsáveis por 16% das exportações brasileiras de café, sendo o maior cliente externo do produto. Segundo Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé, países como China, Índia, Indonésia e Austrália podem ampliar suas compras de café brasileiro. Se a tarifa entrar em vigor, mercados como Honduras, Guatemala e Colômbia poderão priorizar vendas aos norte-americanos, abrindo espaço para o Brasil na União Europeia.
Suco de laranja
O Brasil exporta cerca de 41% de suco de laranja para os EUA, que representam o segundo maior mercado, atrás da União Europeia. De acordo com Ibiapaba Netto, diretor executivo da CitrusBR, não há estrutura suficiente em outros mercados para absorver o volume atualmente destinado aos EUA. A ampliação das vendas na Europa poderia reduzir os preços e prejudicar o setor.
Etanol
Os EUA também representam 16% das exportações brasileiras de etanol, sendo o segundo maior comprador, atrás da Coreia do Sul. Segundo Evandro Gussi, presidente da Unica, os esforços do Brasil para buscar outros mercados já estavam em andamento, com destaque para a Coreia do Sul e o Japão, que vem incentivando a mistura de etanol na gasolina.
Desafios para o setor de açúcar e adaptação aos novos mercados
O Brasil exporta uma menor proporção de açúcar para os EUA, com apenas 2,8% das vendas, mas a medida requer que os produtores dirijam suas vendas a outros destinos como China, Indonésia, Oriente Médio e Norte da África, onde a demanda por açúcar refinado se mantém forte. Segundo Marcelo Di Bonifacio Filho, da StoneX Brasil, a diversificação de mercados será fundamental para diminuir prejuízos.
Assim, a tarifação proposta por Trump traz uma série de desafios para o agronegócio brasileiro, obrigando os setores a buscar novas estratégias de exportação e alianças internacionais.
Fonte: G1 Economia